Com apoio de Recicleiros, Simpósio sobre Resíduos Sólidos reuniu sociedade, academia e empresas para discutir cidades inteligentes e sustentáveis

Palestras, debates, conexões e muito conhecimento. Ao longo de quatro dias, diferentes segmentos da sociedade se uniram para a nona edição do Simpósio sobre Resíduos Sólidos (SIRS), uma realização do Núcleo de Estudo e Pesquisa de Resíduos Sólidos (NEPER) da Universidade de São Paulo (USP), com apoio do Instituto Recicleiros e patrocínio da SIG. 

O evento deste ano, um dos mais relevantes do país no tema resíduos sólidos, teve como tema “Cidades Inteligentes e Sustentáveis”, e foi realizado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP).

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O Simpósio foi dividido em quatro dias e os seguintes eixos temáticos: 

  • Governança e Políticas Públicas; 
  • Engajamento Social; 
  • Tecnologia, Inovação e Empreendedorismo;
  • Workshop e Apresentações dos Trabalhos. 

Além das palestras de especialistas e mesas redondas de debates sobre a questão dos resíduos nas cidades, o evento contou com a apresentação de trabalhos acadêmicos desenvolvidos pelos alunos.

Depoimentos dos palestrantes

Destaque para a participação da nossa parceria SIG, representada por Isabela de Marchi, Gerente de Sustentabilidade, que apresentou a “Estratégia de Circularidade SIG: construindo uma cadeia ética de reciclagem”.

“Esse encontro foi extremamente produtivo e reforça a importância de promover o diálogo entre academia, sociedade civil, iniciativa privada e governo. A construção de uma cadeia ética é um grande desafio e só avançará de forma concreta com o engajamento conjunto de todos esses atores. O evento mostrou, na prática, como essa troca é enriquecedora e quantas oportunidades podem surgir para gerar impacto positivo a partir da colaboração”, destacou Isabela.

Para o Instituto Recicleiros, que atua na linha de frente para estruturar a coleta seletiva e reciclagem inclusiva em municípios brasileiros, eventos como esse, que unem diferentes atores da sociedade, são fundamentais.

“Foi muito interessante participar do simpósio realizado pelo NEPER/USP, que exerce um papel fundamental ao fomentar conhecimento técnico e debates qualificados. Tivemos a oportunidade de compreender melhor como diferentes stakeholders e representantes da sociedade podem atuar de forma conjunta: a academia promovendo reflexão e conhecimento, o governo — representado pelo Estado de Pernambuco —, a indústria, os pesquisadores e as organizações da sociedade civil, todos discutindo caminhos para avançar com mais inteligência na gestão de resíduos. Saio bastante satisfeito e animado com os resultados”, afirmou Erich Burger, Diretor Institucional do Instituto Recicleiros.

Já Danilo Nogueira, Gerente Geral de Economia Circular da Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha (SEMAS), destacou a qualidade das trocas de conhecimento: “foram trocas super ricas, com conhecimento, pesquisas de ponta, com dados que são importantes para o desenvolvimento de políticas públicas”.

Participação do Instituto Recicleiros e parceiros

A programação do SIRS incluiu palestras, mesas redondas e apresentação de trabalhos técnico-científicos. Foram abordados temas como políticas públicas, economia circular, logística reversa, inclusão de catadores, inovação, tecnologias aplicadas à gestão de resíduos, entre outros.

Veja as participações de Recicleiros e SIG dentro da programação:

1

Tema – Instituto Recicleiros: Núcleo de Políticas Públicas

Palestrante – Erich Burger (Diretor Institucional Instituto Recicleiros)

2

Tema – O projeto Recicla+Pernambuco: coleta seletiva e reciclagem inclusiva para municípios do estado

Palestrantes – Danilo Nogueira (Gerente Geral de Economia Circular – Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha do Estado de Pernambuco) e Erich Burger

3

Tema – Estratégia de Circularidade SIG: construindo uma cadeia ética de reciclagem. 

Palestrante – Isabela de Marchi (Gerente de Sustentabilidade da SIG)

4

Tema – Mesa Redonda sobre Governança e Políticas Públicas 

Participantes –  Danilo Nogueira (Gerente Geral de Economia Circular – Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha do Estado de Pernambuco); Erich Burger (Diretor Institucional Instituto Recicleiros); Isabela de Marchi (Gerente de Sustentabilidade da SIG); e Rafael Rodrigues (Diretor de Operações Instituto Recicleiros)

5

Tema – Apresentação Vox Lab (Laboratório de Pesquisas do Instituto Recicleiros)

Palestrantes – Luciana Ribeiro (Analista de Projetos do Vox Lab do Instituto Recicleiros); e Mônica Alves (Pesquisadora do Vox Lab do Instituto Recicleiros)

6

Tema – Mesa Redonda sobre Engajamento Social

Palestrantes – Luciana Ribeiro (Analista de Projetos do Vox Lab do Instituto Recicleiros); e Mônica Alves (Pesquisadora do Vox Lab do Instituto Recicleiros)

7

Tema – Workshop Academia do Catador: Formação Técnica e Humana 

Palestrantes – Lusimar Guimarães Pereira (Gerente da Academia Recicleiros do Catador); e Monike Vasconcelos Santos Teixeira (Coordenadora de Projetos da Academia Recicleiros do Catador)

O Simpósio de Resíduos Sólidos reforçou que não faltam conhecimento, tecnologia ou vontade. O que precisamos é de conexões – poder público, empresas, catadores e sociedade – e união entre a teoria e a prática. E que cada um de nós pode (e deve) contribuir para buscar soluções para os desafios socioambientais das nossas cidades.

Parceria entre Recicleiros e NEPER/USP completa um ano com razões para comemorar

Há um ano, o Instituto Recicleiros e o NEPER/USP – Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) – anunciaram uma parceria inédita. O objetivo central era unir o conhecimento técnico e prático de Recicleiros no campo da reciclagem inclusiva com o rigor acadêmico e a produção de conhecimento científico de uma das universidades mais conceituadas e respeitadas da América Latina.

À época, falou-se da união entre teoria e prática e na proposta de gerar um legado positivo para a sociedade brasileira. Agora, 12 meses após a assinatura do acordo, o sentimento é de celebração por tudo o que se realizou até aqui e, também, pelas perspectivas que a união entre academia e terceiro setor ainda podem gerar.

A cooperação previa uma série de ações benéficas para o todo, entre elas a elaboração conjunta de projetos de pesquisa; organização de eventos científicos e técnicos; intercâmbio de informações e publicações; e levantamento de estudos de casos a partir da realidade vivida por Recicleiros.

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Desde o início, a interação com o NEPER foi vista como um impulso fundamental para o Vox Lab, o laboratório de pesquisas de Recicleiros, que, entre suas ações, busca entender os fatores que influenciam a população no que diz respeito à reciclagem. O Vox Lab, vale lembrar, conta com o fomento da SIG para os projetos de pesquisa.

“Durante o Simpósio de Resíduos Sólidos, realizado pelo NEPER/USP com apoio do Instituto Recicleiros, apresentamos a nossa pesquisa que vem sendo realizada há dois anos com o propósito de traçar o perfil das pessoas que reciclam, das pessoas que não reciclam e conhecer um pouco mais os motivadores que fazem as pessoas engajarem ou não na coleta seletiva. Apresentamos esses dados para a comunidade acadêmica e para os participantes do Simpósio e foi muito positivo esse momento de troca. Essa é a essência do Vox Lab, produzir dados, compartilhar com a academia e fazer uma pesquisa aplicada que mude realidades e que sejam dados para tomadas de decisão”, comemora Mônica Alves, Pesquisadora do Instituto Recicleiros.

Para Recicleiros, a consolidação desse trabalho é a materialização de um dos pilares do Vox Lab. “O Vox Lab surgiu para consolidar o que já fazia parte do DNA do Instituto Recicleiros, que é criar e compartilhar conhecimento. Então, chegar a esse ponto de ter uma troca com a Academia, como no Simpósio de Resíduos Sólidos, além de outros profissionais da área, trocar olhares e receber ideias é muito valioso para nós. É muito satisfatório saber que chegamos até aqui em pouco tempo e com certeza a gente tem muito mais a contribuir e acrescentar”, comenta Luciana Ribeiro, Analista de Projetos que integra o time de Pesquisa do Instituto Recicleiros.

Do lado do NEPER, a avaliação é que a parceria tem gerado bons resultados, a partir de uma via de mão dupla, onde o conhecimento e a pesquisa transitam sem reservas.

“O balanço desse um ano de parceria é muito positivo. Na universidade pública, a gente está interessado em formar quadros qualificados, produzir conhecimento de qualidade e ser um indutor de mudanças na sociedade para além dos muros da universidade e entendo que a parceria com o Instituto Recicleiros atingiu todos esses objetivos. Temos pesquisas de pós-graduação sendo feitas, artigos científicos sendo elaborados e levamos o conhecimento da universidade para o Instituto Recicleiros, que é o agente dessa mudança. A parceria traz conhecimento técnico e análise rigorosa nos dados, então foi muito positivo esse primeiro ano”, avalia Guilherme Oliveira, professor doutor e vice-coordenador do NEPER.

“Nesse ano de parceria, destaco a importância da disponibilidade de dados para pesquisa. Sou uma das pós-graduandas que desenvolve pesquisa junto com o Instituto Recicleiros e, dentro da área de resíduos, assim como em toda a área acadêmica, é necessário o acesso aos dados com possibilidade de publicidade. Durante esse ano, conseguimos desenvolver três projetos de mestrado com essa possibilidade de parceria e diálogo aberto entre o Instituto Recicleiros e a universidade”, revela Ana Teresa Sousa, mestranda na EESC-USP e integrante do NEPER.

O primeiro ano foi de semeadura, mas também de colheita. Os próximos devem ampliar ainda mais o impacto positivo desse ciclo virtuoso de gerar conhecimento com rigor acadêmico, que retorna para a sociedade na forma de métodos aplicáveis e replicáveis e deixa um legado importante para a gestão de resíduos sólidos no Brasil.

Recicleiros, NEPER/USP e SIG discutem Cidades Inteligentes e Sustentáveis em Simpósio de Resíduos Sólidos

De 16 a 19 de setembro, acontece a nona edição do Simpósio sobre Resíduos Sólidos (SIRS), promovido pelo Núcleo de Estudo e Pesquisa de Resíduos Sólidos (NEPER/USP) em São Carlos (SP). Com o tema Cidades Inteligentes e Sustentáveis, o encontro, que tem apoio do Instituto Recicleiros, será realizado em formato híbrido, presencial e online, na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP).

O Simpósio acontece a cada dois anos, desde 2009, e se consolidou como um dos eventos mais importantes do país no tema resíduos sólidos. O SIRS oferece ambiente adequado para colaboração, parcerias e fortalecimento de especialistas na área. Nesta edição, o encontro terá apoio do Instituto Recicleiros, parceiro do NEPER na área de pesquisas, e patrocínio da SIG, especialista em sistemas e soluções para embalagens. Assim, consolida a união entre academia, indústria e terceiro setor, tão importante para superar os desafios impostos pela gestão de resíduos sólidos no Brasil.

União entre ciência, prática e setor produtivo

Para a gerente de Sustentabilidade da SIG, Isabela De Marchi, a discussão sobre o descarte de resíduos é mais que necessária para o avanço das estratégias de reutilização de materiais e a criação de uma cadeia ética de reciclagem que de fato contribua para redução dos impactos ambientais do consumo. “A SIG apoia o desenvolvimento de ações efetivas para sanear o problema do descarte inadequado do lixo, incluindo condições justas para o catador, e a chancela do Neper/USP sobre a importância deste tema mostra que estamos no caminho certo”, comenta.

Na visão de Recicleiros, a parceria reforça a importância do encontro entre prática e ciência.

“Para nós, do Instituto Recicleiros, por meio do Vox Lab, é uma alegria imensa ter o NEPER como parceiro nessa caminhada de produção de conhecimento. Participar da nona edição do SIRS é uma oportunidade muito importante de fortalecer o debate técnico e acadêmico sobre a gestão de resíduos sólidos. Com mais de 18 anos de atuação, Recicleiros leva para o evento não só sua história, mas também as experiências vividas em 14 cidades brasileiras, além de dados consolidados que podem servir à ciência e ajudar a transformar a forma como olhamos para a reciclagem no nosso país. É nesse diálogo entre prática e ciência que acreditamos ser possível avançar”, afirma Mônica Alves, Pesquisadora Vox Lab, do Instituto Recicleiros.

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Programação diversa e completa

A programação do SIRS inclui palestras, mesas redondas e apresentação de trabalhos técnico-científicos. Serão abordados temas como políticas públicas, economia circular, logística reversa, inclusão de catadores, inovação e tecnologias aplicadas à gestão de resíduos.

Veja as participações de Recicleiros e SIG dentro da programação:

16/09 (terça-feira)

11h30 – Núcleo de Políticas Públicas

Erich Burger (Diretor Institucional Instituto Recicleiros)

14h – Programa Recicla+Pernambuco

Erich Burger e Danilo Nogueira (Gerente Geral de Economia Circular – Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha do Estado de Pernambuco)

15h – Estratégia de Circularidade SIG: construindo uma cadeia ética de reciclagem. 

Isabela de Marchi (Gerente de Sustentabilidade da SIG)

17h – Mesa Redonda sobre Governança e Políticas Públicas 

Erich Burger (Diretor Institucional Instituto Recicleiros)

Rafael Rodrigues (Diretor de Operações Instituto Recicleiros)

Isabela de Marchi (Gerente de Sustentabilidade da SIG)

Danilo Nogueira (Gerente Geral de Economia Circular – Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha do Estado de Pernambuco)

17/09 (quarta-feira)

11h – Apresentação Vox Lab (Laboratório de Pesquisas do Instituto Recicleiros)

Mônica Alves (Pesquisadora do Vox Lab do Instituto Recicleiros)

Luciana Ribeiro (Analista de Projetos do Vox Lab do Instituto Recicleiros)

17h – Mesa Redonda sobre Engajamento Social

Mônica Alves (Pesquisadora do Vox Lab do Instituto Recicleiros)

Luciana Ribeiro (Analista de Projetos do Vox Lab do Instituto Recicleiros)

19/09 (sexta-feira)

9h às 12h – Workshop Academia do Catador: Formação Técnica e Humana 

Lusimar Guimarães Pereira (Gerente da Academia Recicleiros do Catador)

Monike Vasconcelos Santos Teixeira (Coordenadora de Projetos da Academia Recicleiros do Catador)

Para participar é necessária inscrição no site oficial, onde você também pode conferir a programação completa: https://sirs.eesc.usp.br/   

Um espaço para soluções sustentáveis e coletivas

Mais do que um evento técnico, o SIRS é um espaço de cooperação. A cada edição, amplia a rede de pessoas e instituições comprometidas com o avanço da gestão de resíduos sólidos no Brasil, o que fortalece o diálogo entre ciência, prática e inovação.

Cooperativas incubadas por Recicleiros são referência em estudos de gravimetria

O Instituto Recicleiros se consolida, ao longo de sua história, como um verdadeiro laboratório vivo à disposição da sociedade para o avanço da reciclagem no Brasil. Essa trajetória ganha ainda mais relevância com os recentes estudos de gravimetria realizados nas Unidades de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMRs) que fazem parte do Programa Recicleiros Cidades.

Além de receber, processar e comercializar os recicláveis e, assim, transformar a realidade socioambiental nos municípios, as cooperativas de reciclagem lideradas por catadoras e catadores, com assessoria técnica do Instituto Recicleiros, estão gerando informações e conhecimento compartilhável e, portanto, servindo não apenas à comunidade local, mas produzindo conhecimentos acadêmicos, tão importantes para tomadas de decisão sobre a reciclagem no Brasil.

Ainda que a gestão de resíduos sólidos seja um assunto que ganha cada vez mais pauta, existe uma carência de dados no país sobre a área de reciclagem de resíduos, inclusive entre o meio acadêmico. Ter a oportunidade de abrir nossas portas para parcerias interessadas em conhecer e pesquisar essa realidade é motivo de muita satisfação. Sem falar que, além de compartilhar nossa expertise, também aprendemos coisas novas no processo”, conta Luciana Ribeiro, Analista de Projetos do Instituto Recicleiros.

Todo esse trabalho de pesquisa e organização do conhecimento, é bom lembrar, é administrado pelo Vox Lab, área da organização responsável por produzir conteúdo com metodologias científicas e dividi-los abertamente com toda a sociedade brasileira. O objetivo principal? Contribuir para o desenvolvimento de ações eficientes para o aprimoramento da coleta seletiva e reciclagem de impacto no país.

A importância do estudo gravimétrico

Antes, porém, de detalhar as ações recentes ligadas à gravimetria que aconteceram nas cooperativas de reciclagem incubadas por Recicleiros, é prudente entender a relevância dessas análises.

O estudo gravimétrico é essencial para compreender o perfil dos resíduos gerados em um determinado município, o que envolve uma análise detalhada da quantidade e da qualidade do lixo. Para além de um diagnóstico, a gravimetria é fundamental para se planejar ações eficientes na gestão de resíduos sólidos, logo, permite técnicos e gestores públicos tomarem decisões embasadas e mais conscientes.

Nesse contexto, a gravimetria dos resíduos exerce uma função importante para o planejamento adequado dos serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos, uma vez que evita desperdícios e, ao mesmo tempo, promove a sustentabilidade.

Outro ponto importante é que o estudo gravimétrico oferece percepções interessantes para a criação de políticas públicas alinhadas à realidade local, já que permite ligar a geração de resíduos a fatores socioeconômicos e culturais da população. Dessa forma, cada município comprometido com a coleta seletiva e reciclagem pode desenvolver novas estratégias a fim de garantir uma gestão de resíduos mais inteligente e eficiente.

Por que estudos gravimétricos nas cooperativas apoiadas por Recicleiros?

As Unidades de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMRs) têm se mostrado um ambiente fértil e produtivo para pesquisas por uma razão principal: são estruturadas e organizadas. As plantas que integram o Programa Recicleiros Cidades seguem padrões de produção diferenciados. Por exemplo, a eficiência no processo de triagem e prensagem dos materiais, que facilita a obtenção de dados precisos sobre a composição dos resíduos, são ideais para pesquisas de gravimetria.

Em Caçador (SC), foi feita uma gravimetria contratada pelo município para um Instituto de Pesquisa com sede na capital Florianópolis. A cooperativa Recicla Caçador, incubada por Recicleiros, participou tanto da separação dos materiais quanto da análise da qualidade dos materiais, assim como sugestão de melhorias no processo. 

Outro exemplo notável aconteceu na Cooperativa Recicla Campo Largo. Ricardo Beckert Trevisan, Mestrando em Ciência e Tecnologia Ambiental na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), está investigando como os rejeitos de cooperativas e associações de reciclagem podem se tornar Combustível Derivado de Resíduo Urbano (CDRU), uma solução que evita aterros sanitários e gera energia. 

“Foram quatro visitas, três delas dedicadas à análise gravimétrica detalhada dos rejeitos gerados na Cooperativa, onde os materiais foram classificados por tipo e por categoria. A Recicla Campo Largo é exemplar: limpa, bem estruturada e com dados em tempo real. Foi interessante ver como um bom gerenciamento pode transformar o que seria lixo em uma fonte de energia sustentável, ao invés de ser destinado ao aterro sanitário”, comentou Trevisan.

Por fim, vale destacar o estudo em andamento sobre gravimetria de rejeitos, realizado dentro do Acordo de Cooperação entre o Instituto Recicleiros e o Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos (Neper), da Universidade de São Paulo. Neste caso, a UPMR referência para o desenvolvimento do trabalho é a cooperativa Recicla Guaxupé, em Minas Gerais.

A pesquisa “Análise Qualitativa e Quantitativa dos Rejeitos da Coleta Seletiva dos Resíduos Domiciliares Gerados no Município de Guaxupé Visando Melhorias no Seu Gerenciamento” está sendo conduzida pelo mestrando Rafael da Cunha Faria.

“A Recicla Guaxupé é referência e a experiência dentro da unidade tem sido fantástica. O ambiente de trabalho é adequado, os cooperados têm condições dignas, usam equipamentos de proteção, além de uma infraestrutura geral muito boa. A rotina da cooperativa vale ser destacada. Com o trabalho de educação ambiental, os resíduos que chegam na cooperativa tem qualidade e o índice de recuperação de resíduos é muito bom. Os processos internos são muito bem definidos”, comenta Rafael.

“Tenho recebido todo o suporte necessário, o time Recicleiros está sempre presente e tem sido peça fundamental para o estudo. O interesse de Recicleiros em produzir informação e deixar pública, gerando valor, principalmente na área de rejeitos que ainda é estigmatizada, é muito significativo”, finaliza.  

Com todas essas movimentações de estudos e pesquisas dentro das cooperativas, as Unidades de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMRs) do Programa Recicleiros Cidades não apenas promovem a gestão eficiente dos resíduos sólidos, mas também se tornam referências acadêmicas e práticas para estudos de gravimetria. Essa sinergia entre prática e pesquisa fortalece políticas públicas e impulsiona o avanço da reciclagem e sustentabilidade no Brasil.

Coleta seletiva no Brasil: como características socioeconômicas moldam as motivações para reciclar

A reciclagem é um pilar fundamental para a economia circular, a proteção ambiental e a geração de renda. Mas, o que realmente motiva as pessoas a participarem de campanhas de coleta seletiva? Um estudo recente, realizado pelo Instituto Recicleiros em parceria com o Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos (Neper/USP), analisou os fatores socioeconômicos que influenciam esse comportamento em 11 cidades brasileiras.

O artigo científico “Relação entre os motivadores para adesão a campanhas de coleta seletiva e características socioeconômicas em contexto brasileiro” foi desenvolvido por Ana Teresa Rodrigues de Sousa, Júlia Fonseca C. Andrade, Mônica de Sousa Alves, Luciana Ribeiro e Valdir Schalch, representando Neper e Recicleiros. O conteúdo foi apresentado e publicado nos anais no 33º Congresso da ABES, Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental.

A publicação tem como base uma ampla pesquisa realizada por Vox Lab, laboratório do Instituto Recicleiros dedicado a estudos de mudança de comportamento da população sobre reciclagem, cuja amostragem é de 4.419 pessoas entrevistadas em onze cidades, oito estados e quatro regiões. O universo populacional da pesquisa é de 672.942 pessoas em ambientes nos quais está presente o Programa Recicleiros Cidades.

Importante registrar que essa pesquisa foi fomentada pela SIG, patrocinadora semente do Vox Lab.

Clique aqui para baixar o artigo científico na íntegra.

Recicleiros e USP firmam acordo de cooperação na área de pesquisas científicas

O Instituto Recicleiros e a Universidade de São Paulo (USP) firmaram um acordo de cooperação de pesquisa e outras atividades técnicas relacionadas às duas instituições. A parceria inédita envolve a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), por meio do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos (NEPER), e a expectativa é unir experiências teóricas e práticas, a fim de gerar conhecimento aplicável à sociedade.

O acordo prevê caminhos de interação entre as partes capazes de fortalecer a universidade e a organização socioambiental. Por exemplo, contemplam ações como a elaboração conjunta de projetos de pesquisa; a organização de eventos científicos e técnicos; intercâmbio de membros da equipe técnico-administrativa; intercâmbio de informações e publicações técnicas e científicas; elaboração e aplicação de questionários e entrevistas; e levantamento de estudos de caso.

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Projeto Hub Recicleiros conecta resíduos com a reciclagem inclusiva

A interação com o Neper vai fortalecer ainda mais o Vox Lab, iniciativa do Instituto Recicleiros que promove pesquisas de comportamento para reciclagem em diversos formatos. Através de ciclos de pesquisa, o Vox Lab, que tem a SIG como apoiadora, busca entender o comportamento e o nível de conhecimento dos moradores dos municípios que integram o Programa Recicleiros Cidades sobre os processos da reciclagem. Além disso, aborda quais fatores, hábitos, influências e estímulos interferem nestas ações.

“Gestão compartilhada se faz com redes de apoio e conexão, e a academia não pode ficar de fora. A Universidade tem de estar no debate e promover atividades práticas, beneficiando toda a sociedade. Por isso, desde 2021, quando pensamos em materializar o Recicleiros Lab, tínhamos como meta estabelecer uma parceria tão importante como essa que fechamos, um Acordo de Cooperação com uma das instituições mais respeitadas da América Latina”, comenta Mônica Alves, Pesquisadora do Instituto Recicleiros.

“A parceria com Recicleiros foi recebida por toda equipe com muito entusiasmo, já conhecíamos o trabalho do Instituto e gostamos muito da ideia de poder contribuir com estas ações. O NEPER acredita que as melhorias na área de resíduos sólidos passam pela formação de profissionais, desenvolvimento de pesquisas e conexões com profissionais que atuam e conhecem o dia a dia do gerenciamento de resíduos. Acreditamos que bons frutos surgirão desse acordo”, diz Ana Teresa, mestranda na EESC-USP e integrante do NEPER.

União entre teoria e prática, e um legado para a sociedade brasileira

A interação entre Recicleiros e NEPER já começou e alguns projetos estão em andamento. Por exemplo, membros do NEPER estiveram em uma visita técnica na cooperativa Recicla Guaxupé, incubada por Recicleiros, e estão analisando a ampla pesquisa Vox Lab, realizada pelo núcleo de Pesquisa da organização socioambiental, a fim de que possam contribuir com um olhar acadêmico. 

Além disso, um mestrando da USP está iniciando uma pesquisa de campo em uma cooperativa de reciclagem. A proposta é analisar o rejeito sob a ótica do reaproveitamento energético. Esse conhecimento vai deixar um legado de conhecimento acessível, e que poderá ser replicável para outros territórios.

Por outro lado, a Recicleiros participou de uma aula do curso de Engenharia Ambiental, compartilhando sua experiência de anos acumulada no campo, dentro do Programa Recicleiros Cidades. E também estará presente no IX Simpósio Sobre Resíduos Sólidos que acontecerá em 2025 e é organizado pelo NEPER. E isso é apenas o começo. Há um enorme potencial de união a ser explorado.

De acordo com Mônica, existe a intenção de fazer trabalhos conjuntos com mestrandos e doutorandos da USP. Os pesquisadores podem chegar com uma proposta de estudo, e podem pesquisar dentro da realidade Recicleiros. Ao mesmo tempo, Recicleiros pode propor linhas de pesquisa. É tudo bem dinâmico.

Recicleiros tem muito a celebrar com essa parceria, que se estenderá a toda a sociedade, como sempre se propõe. “O NEPER tem uma grande riqueza para compartilhar. Eles são consultados por necessidades que temos, com referências e pesquisas. Esse arcabouço aliado com o laboratório vivo que somos vai ao encontro da popularização da ciência. Além disso, tem a aplicabilidade da pesquisa, já que tanto a USP quanto Recicleiros têm campo disponível para tal”, diz Luciana Ribeiro, Analista de Projetos que integra o time de Pesquisa do Instituto Recicleiros.

“Vamos gerar conhecimento com rigor acadêmico, que vai retornar para a sociedade, com métodos que podem ser replicados. Não podemos estar em todos os lugares, mas nosso conhecimento com método a gente consegue compartilhar. Esse é um legado que vamos deixar com essa parceria”, celebra Mônica.

Recicleiros fecha parcerias para promover mudança de comportamento para reciclagem

O Brasil recicla hoje apenas 4% de seus resíduos sólidos, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Esse percentual está muito aquém dos 16% vistos em países como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia, cuja faixa de renda e grau de desenvolvimento econômico são semelhantes, conforme dados da International Solid Waste Association (ISWA).

Fato é que esse baixo índice de materiais que voltam para a cadeia produtiva nas indústrias passa diretamente pelos hábitos arraigados dos brasileiros, que ainda misturam orgânicos com materiais recicláveis, e pouco destinam seus resíduos para a coleta seletiva. Portanto, sem dúvida, é preciso avançar de forma significativa na mudança de comportamento dos cidadãos, sobretudo no que diz respeito à reciclagem. 

Dentro deste cenário, o Instituto Recicleiros, ciente de sua vocação laboratorial e alinhado com seu compromisso com a sociedade brasileira, tem testado novos caminhos para facilitar a educação ambiental e contribuir para a expansão perene e gradual da coleta seletiva e reciclagem no país. Por isso, tem trabalhado em parceria com outras instituições comprometidas com o mesmo propósito: a mudança de comportamento das pessoas em benefício da reciclagem.

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Hoje, Recicleiros desenvolve atividades junto a outras duas instituições que servem a essa mesma causa: Delterra e Espaço Urbano. O objetivo é unir esforços, trocar experiências práticas e insights, e testar em uníssono novas possibilidades, a fim de fomentar a cultura da reciclagem por meio de novos hábitos e atitudes.

“Estamos unindo esforços de olho na mudança de comportamento das pessoas, inclusive para aumentar o volume de massa de recicláveis dentro das cooperativas incubadas por Recicleiros, gerando mais renda para os cooperados. Delterra e Espaço Urbano estão fazendo trabalhos parecidos, então, por que não unir para potencializar os resultados?”, diz Luciana Ribeiro, analista de projetos do Instituto Recicleiros.

Duas parcerias e novos testes e abordagens

Cada parceria tem as suas particularidades e seus objetivos específicos, embora todos estejam alinhados com a mudança de comportamento. E cada uma funciona em um território diferente: Guaxupé (MG) e Piracaia (SP), todas cidades nas quais operam uma Unidade de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMR) em fase de incubação por Recicleiros.

A união com Delterra tem como território base a cidade de Guaxupé (MG), e a proposta é desenhar um modelo de ação amparado na experiência do usuário. Isso envolve pesquisa de campo, testes, entrevistas presenciais e online para a criação de uma campanha de comunicação massiva em favor da reciclagem. 

Neste momento, o conceito criativo da campanha está pronto, e o passo seguinte é testar em um microterritório, que pode ser um bairro ou uma rota de coleta, para avaliar a efetividade e eventualmente adaptá-lo para que seja expandido em todo o município mineiro. Vale citar que Delterra e Recicleiros são apoiadas pela AEPW, Alliance to End Plastic Waste.

“É um prazer para a Delterra unir forças com um parceiro consagrado e apaixonado como a Recicleiros, temos tanto em comum. Através da troca de aprendizagens e experiências em mudança de comportamento e outras áreas relacionadas com a gestão de resíduos, a nossa esperança é encorajar a expansão deste tipo de projeto, que beneficia tanto o ambiente como as comunidades locais”, diz Federico Di Penta, Diretor Regional da América Latina.

Com relação a Espaço Urbano, que iniciou as ações no município de Piracaia (SP), a abordagem é diferente, vai por outro caminho, mas tem o mesmo fim: a mudança de comportamento. A metodologia testada é atrelar a reciclagem a assuntos diversos, utilizando a gamificação, ou seja, a partir de mecanismos e dinâmicas para motivar e, ao mesmo tempo, ensinar as pessoas de forma lúdica. Por exemplo, os munícipes são incentivados a doar seus recicláveis a fim de ajudar a causa animal – os materiais recicláveis valem ração para atender cães de rua.

Além disso, a Espaço Urbano não dialoga diretamente com os consumidores, mas trabalha junto a influenciadores sociais, como religiosos, líderes sociais, com a ideia que eles sejam multiplicadores da mensagem e possam impactar as pessoas que estão ao seu redor em favor da reciclagem. Assim, a organização não mobiliza pessoas, mas forma mobilizadores.

Criação de novos hábitos em Campo Largo

Em Campo Largo (PR), a startup so+ma, especializada em engajamento do consumidor, e tendo como base princípios da ciência comportamental e tecnologia, soma com o Instituto Recicleiros, mudando os hábitos dos cidadãos e trazendo mais volume e de qualidade para a unidade local do Recicleiros. 

Presente em quatro estados brasileiros, o programa so+ma vantagens reconhece as atitudes socioambientais do participante oferecendo benefícios e promovendo a economia circular na prática. A parceria com o Instituto Recicleiros se concretizou por meio da SIG, patrocinadora semente de Recicleiros, que oferece soluções para embalagens cartonadas assépticas, e grande apoiadora das duas organizações.

A ação em Campo Largo (PR), que tem também o apoio do Governo do Paraná e Prefeitura de Campo Largo, atua em duas frentes: com uma unidade de recebimento chamada casa so+ma e aprendizagem na prática em escolas. A casa so+ma é um ponto de recebimento onde os munícipes trocam seus recicláveis por pontos que podem ser convertidos em benefícios como alimentos, itens de higiene, cursos, entre outros produtos.

Em ação com escolas municipais, os alunos levam seus recicláveis, são cadastrados, acumulam créditos e podem trocar por materiais escolares, brinquedos, ingressos de cinema e vale-cultura.    

Todo o material recebido através do  programa so+ma vantagens é doado para a Recicla Campo Largo, cooperativa incubada pelo Instituto Recicleiros por meio do Programa Recicleiros Cidades. Em menos de doze meses, já foram quase 90 toneladas de recicláveis recebendo destinação correta através do programa com engajamento da população.

Reciclagem tem gênero?

“A nossa vida é tão corrida, que a gente precisa de tempo pra tudo. Eu que sou mãe de família, esposa e dona de casa e ainda trabalho fora, assim que acordo tenho que preparar o café, arrumar e levar meu filho pra escola e só depois ir para o trabalho. Tudo isso leva tempo. Aí quando a gente pega o lixo, é mais fácil jogar tudo em um lugar só”.  Nós entendemos a correria da dona Ângela (nome fictício) e como a vida dela é tomada de atividades, que vão além da sua profissão de auxiliar de serviços gerais. Mas a princípio queremos dizer para ela, que reciclar é simples e fácil (vamos explicar sobre isso no decorrer deste artigo), mas ela não precisa ser a única responsável por esta atividade.

Mas primeiro vale esclarecer de onde surgiu esta fala da dona Ângela, de 40 anos, que reside no estado de Pernambuco. Ela foi uma das entrevistadas de uma pesquisa realizada pelo Vox Lab – que é um laboratório de pesquisas e produção de conhecimento do Instituto Recicleiros para a mudança de comportamento para a reciclagem. Sua principal missão é gerar dados e indicadores para acelerar a curva de adesão da população aos sistemas de coleta seletiva e promover o aumento das taxas de reciclagem no país. A proposta é também suprir uma demanda latente por conhecimento, que possa ser replicada e ajude iniciativas ao redor do país, inclusive na construção de políticas públicas de gestão de resíduos sólidos.

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Foram nestas entrevistas, realizadas em três municípios de três estados brasileiros, entre eles Pernambuco, que um fato nos chamou a atenção e abriu um leque de questionamentos. Descartar os resíduos recicláveis é uma atividade doméstica, que sobrecarrega ainda mais as mulheres? Vale aqui a definição de atividade doméstica, também denominada de “economia do cuidado”, que é um conjunto de ações não remuneradas, geralmente exercidas por mulheres, como a limpeza e organização da casa, preparação de alimentos e os cuidados com crianças, idosos, entre outras ações.

Mas vamos voltar à pesquisa que nos direcionou para a problematização sobre os atores sociais da reciclagem. Vamos trazer mais três falas que levantamos nesta pesquisa. É a minha mãe que cuida do lixo”, disse o auxiliar de pedreiro, de 22 anos, que reside no estado do Mato Grosso do Sul. “Eu peço para a moça que trabalha comigo separar”, afirmou o comerciante, de 79 anos, que também mora no estado do Mato Grosso do Sul. Por fim, não menos importante para este contexto de análise, a fala da dona de casa, de 38 anos, da Paraíba. “Eu que faço o serviço de casa, então eu que sou a responsável pela separação do que é reciclável. Eu coloco em um saquinho separado.” 

Sobre a pesquisa, ainda vale pontuar uma situação vivenciada pelos nossos entrevistadores, que tem muito a ver com a temática deste artigo. Quando as pessoas abordadas eram do gênero masculino, assim que informadas que o tema da entrevista seria sobre reciclagem, na maioria das vezes, a esposa, ou a mãe ou a irmã e até mesmo a empregada doméstica, eram chamadas para responder às perguntas. Era quase como nos dizer: este assunto é de mulher.

Por isso, a pergunta “Reciclagem tem gênero?  Não trazemos uma resposta pronta para o título deste artigo. Mas, precisamos sim, pensar a reciclagem na perspectiva de gênero. A diretoria da rede global GenderCC – Women for Climate Justice, Gotelind Alber, especialista em políticas climáticas e sua relação com a questão de gênero, afirma, em uma entrevista na Revista Humboldt Brasil, que no debate sobre o meio ambiente, já se aborda a “feminização da responsabilidade ambiental”. Isso significa que as pessoas que são geralmente responsáveis pelos trabalhos que envolvem cuidados – em sua maioria, mulheres – ficam sobrecarregadas com tarefas adicionais. E, segundo ela, são justamente as mulheres que não têm praticamente nenhum horário livre, que assumem as maiores tarefas da sustentabilidade na vida cotidiana.

Precisamos aprofundar nossas pesquisas para este olhar da “feminização da responsabilidade ambiental”, citado pela cientista Gotelind Alber. E vamos fazer. Até lá, com o direcionamento do conhecimento que temos até aqui, precisamos falar do quão importante é reciclar e se não tivermos corresponsabilidades neste propósito, não vamos conseguir sair do patamar de reciclagem de apenas 4%, que se configura no contexto brasileiro atual.

A responsabilidade de fazer a gestão dos resíduos domésticos, separando o que é reciclável e destinando de forma correta, não pode ser uma obrigação só das mulheres. Tem que ser um compromisso de quem habita este planeta. E, além disso, ela tem que ser internalizada em todos os momentos da nossa vida. No trabalho, nos eventos sociais, nas nossas viagens e por todo canto onde vamos e geramos resíduos. Se eu não faço em casa essa tarefa, a chance de não fazer em outros locais é muito grande. Se eu misturo para alguém separar depois, a chance de não acontecer também é enorme.

E retornando à fala da dona Ângela, quando ficamos de explicar que reciclar é fácil e rápido, vamos falar de uma organização simples. Comece colocando duas lixeiras uma ao lado da outra e tenha atenção na hora de descartar. O que é reciclável vai para uma, o que não é, vai para a outra. Se na sua cidade tiver coleta seletiva é só colocar para fora no dia e horário certos. Caso contrário, procure a Prefeitura e se informe qual é a maneira mais fácil de destinar seu recicláveis.

Mas, para que isso vire um hábito dentro de casa, é preciso o comprometimento de toda família. Depois que todos entenderem a importância deste ato tão simples, podemos evoluir no debate das ações que promovem uma reciclagem inclusiva e ambientalmente correta. 

O que nos cabe agora é falar da responsabilidade compartilhada – termo que vem da nossa Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.3035/10), que se refere às atribuições que são desempenhadas por todos os participantes envolvidos no processo produtivo, desde a fabricação de um produto até sua destinação final. Mas vamos trazer este termo para dentro de casa: compartilhada também no sentido de que é uma responsabilidade de todos os gêneros – uma ação de comprometimento planetário, que só vai evoluir quando todas e todos fizerem a sua parte.

As políticas públicas devem fomentar este processo com narrativas que abordam o tema da divisão das responsabilidades ambientais. Um assunto que também perpassa pelo escopo e direcionamento da Educação Ambiental, que precisa sim de uma abordagem de gênero nesse compromisso de mudança de comportamento para a reciclagem.

E no final, o que a gente quer dizer para dona Ângela, é que reciclar não pode ser mais uma sobrecarga de trabalho para a vida dela que já é tão atribulada. Precisamos de um caminho que promova a igualdade de gênero nos deveres e compromissos com a regeneração planetária, que, com certeza, passa por alavancar o índice de reciclagem no Brasil.

Reciclar não pode ter gênero. 

Reciclar é cidadania.

Vox Lab une inovação, pesquisa e prática diária para promover mudança de comportamento para reciclagem

Envolvendo três áreas do Instituto Recicleiros, o Vox Lab tem como objetivo gerar inteligência para incentivar a mudança de comportamento entre os cidadãos brasileiros. A partir da execução de ações de comunicação e engajamento, coleta e análise de dados, a iniciativa quer acelerar o ritmo de adesão da população ao descarte seletivo e compartilhar conhecimento de maneira aberta.

A inovação e a geração de conhecimento a partir da prática (e também do erro) já é algo que faz parte do DNA do Instituto Recicleiros. Em uma área ainda tão incipiente no Brasil como é a reciclagem, esse posicionamento maker e laboratorial a que Recicleiros se propõe, encontra uma demanda latente por conhecimento que possa ser replicado e ajude iniciativas ao redor do país a alavancarem seus resultados. 

“Por sermos pioneiros em nossa área de atuação, essa postura de testar e aprender com a prática deixa de ser uma opção e passa a ser uma necessidade. A demanda por conhecimento existe e alguém tem que ir a campo testar, descobrir como as coisas funcionam para então sistematizar e difundir o conhecimento”, afirma Erich Burger, diretor institucional do Instituto Recicleiros.

Agora, imagine só unir essa frente de inovação, tão presente no cotidiano Recicleiros, com pesquisa científica para produzir conhecimento, criar procedimentos sistemáticos e aprimorar processos internos? E mais: com base nesses estudos, gerar um arcabouço de conhecimento que pode se tornar conteúdo de referência para dividir com o mercado? 

Pois bem, a união de inovação e pesquisa para mudança de comportamento formata um pouco do que se denominou Vox Lab.

Pesquisa de campo junto à população.

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O principal objetivo do Vox Lab é descobrir como incentivar a mudança de comportamento para a reciclagem e, assim, aumentar o volume de materiais recicláveis coletados nas cidades, não apenas onde está o Programa Recicleiros Cidades, mas também em outros municípios, já que esse conhecimento será aberto. 

Acelerar essa curva de adesão da população aos sistemas de coleta seletiva é mandatório para atender a urgente demanda por aumento das taxas de reciclagem no país. Uma demanda que é ambiental, econômica e social, já que cooperativas de catadores dependem do volume de material que chega às unidades de triagem para garantir o sustento dos catadores e a viabilidade econômica de suas cooperativas.

Mas não apenas. A verticalização dessa curva de resultados da reciclagem nas cidades é de grande interesse do setor empresarial, que investe em sistemas de logística reversa, como é o caso do Programa Recicleiros Cidades, e precisam de volumes crescentes de materiais pós-consumo para produzir produtos e embalagens mais sustentáveis.

Apesar do conceito de aprendizagem intrínseco ao que é Recicleiros, Vox Lab nasceu como projeto em 2021, com o aporte do patrocínio semente da SIG Brasil. Lá começaram os primeiros passos no sentido de organizar uma metodologia de atuação que pudesse aproveitar a diversidade formada pelos municípios do Programa Recicleiros Cidades, e com isso gerar informação valiosa para superar esse grande desafio que é mobilizar pessoas tão diversas, em locais tão diferentes, a fazer a mesma coisa: separar seus recicláveis.

Desde o ano passado, o projeto ganhou força com a formação de um núcleo dedicado de pesquisa e a composição de um squad junto com as áreas de Mobilização Social e Serviços de Marketing.

Conscientização das pessoas em eventos é parte da estratégia de comunicação.

“Com um cronograma integrado e um planejamento específico, pudemos unir forças e priorizar ações que vão nos levar a respostas mais precisas e rápidas. Queremos que essa diversidade cultural e de público que nossas cidades oferecem nos alimente como conhecimento para acelerar os benefícios sociais e ambientais da reciclagem”, destaca Tamires Lavor, gerente de comunicação do Instituto Recicleiros.

O que tem acontecido é a fusão do lado empírico, que já acontecia na prática diária, com o olhar científico. “Hoje, vejo o Vox Lab em dois parâmetros. Primeiro, a pesquisa aplicada, que é o debate com o Programa Recicleiros Cidades. Com base nas informações coletadas, o que vamos aplicar na prática. Segundo, a análise acadêmica, ou seja, o que vamos transformar em produção científica para discutir com a Academia”, conta Mônica Alves, pesquisadora do Instituto Recicleiros.

Vox Lab: conexão de três áreas que trabalham em sintonia e parceria

“É interessante que o Vox Lab tem uma atuação circular, ele não termina, vai se retroalimentando. Está tudo muito interligado”, acrescenta Mônica.

Enquanto o departamento de Mobilização Social promove ações diárias de engajamento nas cidades onde o Programa Recicleiros Cidades está presente, a área de Pesquisa ocupa-se em levantar e analisar dados desses territórios de maneira transversal. A partir dos insights gerados, o time de Marketing propõe soluções e campanhas para públicos específicos.

Vox Lab é um movimento natural de aprendizagem que acontece nos municípios em que trabalhamos e, principalmente, no espaço que existe entre esses municípios que é a correlação de dados desses diferentes territórios. O conhecimento que podemos gerar com as experiências realizadas nessas localidades pode nos ajudar a definir modelos de interação com a sociedade que abreviem a jornada da mudança de comportamento. Isso, no fim, é redução do custo da tonelada reciclada e aumento de renda e qualidade de vida para catadores.

Programa Recicleiros Cidades pelo Brasil.

Nossa missão com esse projeto é aprender para compartilhar conhecimento.

“O Vox Lab é uma mistura, uma soma de esforços dessas áreas. As soluções são feitas em conjunto, é algo vivo, que vai acontecendo nas praças. Envolve orientação e engajamento da população para o aumento das taxas da reciclagem, campanhas de conscientização, pesquisa para entender o que está acontecendo, e desenvolvimento de novas soluções, não necessariamente nessa ordem, mas sempre em aprendizado e desenvolvimento constante. Esse todo forma o Vox Lab”, explica Tamires.

“Esse trabalho é inédito, primeiro porque estamos trazendo o acadêmico para próximo, o que é essencial. Ter a facilidade de testar in loco, sem dúvida, é um diferencial. O Vox Lab faz, mede e devolve as ações com melhorias, e isso é muito positivo. Por último, estamos falando de uma ação feita por uma equipe multidisciplinar, e decisões baseadas em dados”, afirma Carolina Martinelli, coordenadora de marketing de Recicleiros.

Os benefícios do Vox Lab

Ação nas ruas de Serra Talhada (PE).

Com o Vox Lab, o Instituto Recicleiros tem a oportunidade de gerenciar um grande volume de informações geradas a partir do Programa Recicleiros Cidades. E transformar essas informações em conhecimento. Eis um dos muitos benefícios gerados na ponta.

“Temos um mesmo Programa em várias regiões do Brasil, e conseguimos levantar esses dados e comparar a partir de vários indicadores. Isso é muito rico tanto para a Academia, que se baseia em dados científicos, quanto para o Instituto aperfeiçoar as ações internas. Podemos evoluir o nosso Projeto, e gerar conhecimento para outras ações de políticas de gestão de resíduos. É algo inédito no Brasil”, diz Mônica.

Todo esse conhecimento acumulado tem um grande objetivo: promover mudança de comportamento para a reciclagem, que abrange também a coleta seletiva, a incubação de cooperativas, dentre outros assuntos correlatos.