Parte fundamental do Instituto Recicleiros, o programa, que conta com investimentos de empresas como Grupo HEINEKEN, Nestlé e SIG, visa empoderar catadores brasileiros, de forma individual e coletiva, para que possam empreender de forma sustentável
O Brasil gera 82 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano, dos quais apenas 3% são reciclados, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Hoje, estima-se que estejam em ação cerca de 800 mil catadores, segundo dados do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), que são protagonistas quando o assunto é reciclagem.
Porém, a grande maioria desses profissionais está em situação de vulnerabilidade, com remuneração baixa e atuação em ambientes precários, como ruas e lixões, além de condições muito vulneráveis pela falta de contratos que garantam estabilidade para o planejamento de seus empreendimentos.
Formar pessoas e promover a mobilidade social
É dentro deste contexto que nasceu a Academia Recicleiros do Catador, iniciativa essencial que integra as ações do Instituto Recicleiros. O objetivo da Academia do Catador é formar pessoas e promover a mobilidade social desses profissionais a partir do empreendedorismo.
Para tanto, envolve um processo de qualificação profunda e transversal, considerando todas as dimensões necessárias para que o negócio dos catadores possa ser bem sucedido. As trilhas de capacitação desenvolvem conhecimento operacional, de segurança, administrativo, liderança, cooperativismo, governança, relacionamento interpessoal, entre outros assuntos técnicos e comportamentais.
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“A Academia é a concretização de um sonho de constituir uma escola que não tratasse apenas de questões produtivas e administrativas, mas considerasse a dimensão humana, olhando para a origem e a história de vida dessas pessoas. É preciso saber lidar com questões relacionadas à violência doméstica, problemas com álcool, desgastes emocionais, situações de fome e depressão, que muitas vezes fazem parte da condição social dessas pessoas”, explica Lusimar Guimarães, gestor da Academia do Catador. “A reciclagem, para nós, só é sustentável se for inclusiva e emancipatória”, acrescenta.
Com uma jornada intensiva e de longo prazo, a Academia do Catador busca desenvolver condições ideais para que as pessoas mais vulneráveis, aquelas que dificilmente têm oportunidades formais de trabalho e buscam sua sobrevivência como catadores, possam atuar com profissionalismo e eficiência em suas cooperativas.
A metodologia de capacitação da Academia já vem sendo utilizada e constantemente melhorada nas operações do Programa Recicleiros Cidades. São quase 300 catadores e 50 técnicos facilitadores, em 14 cidades, passando pela capacitação. Com o apoio das empresas Grupo HEINEKEN, Nestlé e SIG, o Instituto Recicleiros está sistematizando o conteúdo que é fruto de 16 anos de atuação no campo para torná-lo disponível de maneira gratuita para catadores de todo o país.
Atuação com impacto social positivo
A iniciativa vem mudando a vida de trabalhadores, como é o caso da Deizideria Saraiva da Silva, 23 anos, cooperada, catadora e diretora administrativa da Recicla Cajazeiras, na Paraíba, desde 2022.
“A Academia nos dá toda a assistência para lidar com as questões burocráticas da empresa e questões legais. Fornece conhecimento técnico que só conseguiríamos se fizéssemos uma faculdade. Além disso, nos ajuda como pessoas dando oportunidade para aqueles que o mercado rejeita”, explica Deizideria.
A catadora conta que sua vida financeira mudou após entrar para a cooperativa e iniciar o processo de capacitação. “Por meio da minha remuneração, consegui estabilizar minha família, viver num padrão de vida melhor, pagar as contas, comprar minha moto, as coisas que meu filho precisa e pagar a minha faculdade, que comecei quando entrei na cooperativa”, encerra.
Erich Burger, Diretor Institucional de Recicleiros e um dos idealizadores da Academia, fala do impacto positivo que a Academia do Catador provoca: “entendemos que a demanda por capacitação de qualidade e aderente à realidade dos catadores vem de todo o Brasil. Com a experiência do Instituto Recicleiros na incubação e profissionalização de catadores, associada à possibilidade de deixar isso acessível e padronizado para quantos catadores tiverem interesse, acreditamos que temos um produto extremamente valioso e gerador de profundo impacto social. É um projeto de longa duração, de melhoria contínua, até que se torne a melhor e mais completa solução para o desenvolvimento profissional dos catadores”.
Empresas têm papel preponderante na Academia do Catador
Para dar escala à Academia do Catador, Recicleiros conta com o apoio de empresas que acreditam e apoiam essa causa. Tornar tanto o método quanto o conteúdo livres e gratuitos para catadores de todo o Brasil foi o que chamou a atenção e incentivou empresas a investirem no programa.
“Por meio da Academia queremos compartilhar o conhecimento e boas práticas gerados no Programa Recicleiros Cidades com outros catadores. Para nós a construção de uma cadeia ética de reciclagem, que garante condições de trabalho seguras e remuneração digna aos catadores, é fundamental. Hoje, temos os times de saúde e segurança e de melhoria contínua da fábrica da SIG trabalhando junto com o time dos Recicleiros para desenvolver os melhores protocolos. Nosso objetivo é que os catadores trabalhem nas unidades de processamento com as mesmas condições que nossos funcionários em nossas plantas”, diz Isabela De Marchi, Gerente de Sustentabilidade América do Sul da SIG.
“A Nestlé apoia mais de oito mil profissionais de reciclagem em todo o Brasil, com ações estruturantes que desenvolvem melhores sistemas de reciclagem, aumentam o engajamento sobre o tema e a renda desses trabalhadores. Estar junto com o Instituto Recicleiros, na criação da Academia, faz parte do compromisso da empresa de ter 100% de suas embalagens recicláveis e/ou reutilizáveis integrada à geração de impacto social positivo. E isso também acontece por meio da ampliação do conhecimento, que contribui para valorização dos catadores como empreendedores sociais”, afirma Cristiani Vieira, Gerente de Sustentabilidade da Nestlé Brasil.
Importante destacar que o programa trabalha com a lógica de “inovação aberta”, conceito que busca a inovação a partir da criação de parcerias externas com outras pessoas e organizações. Dessa maneira, os investidores têm a oportunidade de contribuir para a construção dos módulos educativos, estudos socioeconômicos e projetos especiais dentro do espectro da Academia do Catador.
“Sabemos da importância de catadoras e catadores para o funcionamento da cadeia da indústria de bebidas e da reciclagem e, principalmente, da nossa responsabilidade para com este público. O Instituto HEINEKEN, pilar social do Grupo, existe para atuar frente ao desafio de promover condições mais dignas de trabalho para esses profissionais, e parcerias como essa unem o nosso compromisso e recursos com a expertise de quem está diretamente ligado a esses profissionais, nos permitindo promover o desenvolvimento social e a inclusão produtiva necessários para gerar a transformação dessa realidade”, conta Vânia Guil, Gerente Executiva do Instituto HEINEKEN.
Por fim, Lusimar destaca a importância da participação das empresas para estender as ações da Academia do Catador.
“Com o apoio de mais empresas, vamos amplificar este modelo que estrutura, qualifica e emancipa os atores envolvidos nesse segmento da cadeia produtiva, além de gerar conhecimento que é aberto e compartilhado com outras organizações que promovem os catadores. E, por fim, transformar o que alguns ainda chamam de lixo em recursos, trabalho e dignidade, afinal, essa é a nossa missão”, finaliza o gestor da Academia do Catador, Lusimar Guimarães.