Recicleiros e Owens-Illinois retiram 130 toneladas de vidro na Vila de Jericoacoara

O Instituto Recicleiros e a Owens-Illinois se juntaram para retirar, no início deste ano, 130 toneladas de embalagens de vidro, equivalente a cerca de 650 mil garrafas da Vila Jericoacoara, no Ceará, um dos destinos turísticos mais conhecidos do Brasil. A Vila costuma gerar em média, por dia, nada menos do que 2,5 toneladas de vidro.

A ação inédita também contou com a Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de Jericoacoara e o Grupo HEINEKEN para fazer a destinação ambientalmente correta dos materiais, encaminhados para a reciclagem. 

Para resolver a situação pontual, Recicleiros, O-I e a Cooperativa, com apoio do Grupo HEINEKEN, se uniram numa força tarefa para viabilizar um esquema logístico emergencial e, em aproximadamente 30 dias, retiraram o material acumulado na Vila para um transbordo localizado no município Jijoca (CE), de onde partiram grandes caminhões com esse vidro para reciclagem.

Ao todo, foram enviados quatro caminhões carregados de vidro tendo como destino a planta da Owens-Illinois em Recife (PE). O custo da operação considerou uma remuneração justa e ética por tonelada processada pelo trabalho da Cooperativa.

Os desafios da operação

 A geografia complexa na região, formada por dunas de areia que cercam a Vila de Jericoacoara, torna a reciclagem de garrafas de vidro muito desafiadora. Escoar o vidro de Jeri para reciclagem é uma tarefa que exige uma infraestrutura logística bem estruturada, além da proximidade da indústria recicladora ao local. 

Portanto, para que a operação se torne economicamente viável, é necessário carregar a maior quantidade possível de vidro em cada caminhão, pois a indústria recicladora mais próxima está a mais de 1000 km de distância, no Recife (PE). 

Tudo isso tem feito da destinação ambientalmente adequada do vidro descartado em Jeri um desafio que exige uma visão integrada e colaborativa entre o ecossistema envolvido.

“O vidro é um material permanente, inerte e infinitamente reciclável. A principal barreira para que continue sua jornada circular na cadeia é conseguir com que ele chegue em boas condições até nossas fábricas. Através da responsabilidade compartilhada e união de esforços entre diferentes atores, estamos comprometidos em buscar soluções para tornar possível e viável que o vidro consumido em destinos paradisíacos e com longas distâncias de fábricas não acabe seu ciclo de vida de forma precoce, e possa se tornar uma nova garrafa, diminuindo a necessidade de extração de matéria-prima virgem”, comenta Alexandre Macário, gerente de economia circular da Owens-Illinois. 

Agora, os esforços do Grupo HEINEKEN, Recicleiros e O-I estão voltados para o estabelecimento de uma solução para que o retorno desse material para a cadeia produtiva seja feito de maneira permanente e definitiva. A expectativa é que sejam realizados investimentos em infraestrutura e processos otimizados, além da garantia de compra do vidro para que seja transformado em novas embalagens e garanta assim a economia circular do material com  impacto social.

“Essa estruturação trará eficiência operacional e redução de custo na logística da recuperação do vidro na vila”, comenta Erich Burger, fundador e diretor institucional de Recicleiros.

Jeri e o Programa Recicleiros Cidades

A Vila de Jericoacoara foi o território piloto do Programa Recicleiros Cidades, iniciativa estruturante em coleta seletiva e reciclagem inclusiva, focada na geração de adicionalidade nos municípios brasileiros e viabilizada pelo conceito de Massa Futura – posteriormente regulamentado pelo decreto federal 11.413/23.

“Estamos gratos a equipe inteira envolvida junto à Cooperativa. Geramos hoje em torno de 75 toneladas/mês de vidro e ele se acumula muito rápido. A retirada constante desse material é de extrema importância para a preservação de Jeri e para a renda dos cooperados”, enfatiza Edicarlos Araújo, presidente da Cooperativa de Catadores de Jericoacoara.

Atualmente, o município conta com uma Lei Municipal de Coleta Seletiva, um sistema de cadastramento e fiscalização de grandes geradores e uma unidade de triagem equipada, com processos produtivos definidos e catadores treinados para operação e gestão.

 

Recicleiros e Owens-Illinois fecham parceria inovadora para viabilizar reciclagem de embalagens de vidro no Brasil

O entrave que impede a reciclagem de embalagens de vidro parecia intransponível. Sem uma oferta estruturada que viabilize os custos de recuperação, triagem, processamento e transporte do material até os recicladores, bem como a falta de profissionalização, colaboração e integração entre diferentes agentes da cadeia, faz cerca de 60% das embalagens de vidro irem direto para aterros e lixões. 

Comprometidos em subverter essa lógica, o Instituto Recicleiros e a Owens-Illinois (O-I), líder mundial na fabricação de embalagens de vidro, fecharam uma parceria para garantir que as embalagens de vidro pós-consumo processadas nas 14 unidades de triagem do Programa Recicleiros Cidades, espalhadas nas cinco regiões do Brasil, possam ser recicladas e transformadas em novas embalagens de vidro. A expectativa inicial é recuperar cerca de 3 mil toneladas no primeiro ano do projeto.

Desafio logístico do vidro

O principal desafio da reciclagem do vidro é logístico, uma vez que é um monomaterial permanente, ou seja, após produzido pela primeira vez, não necessita de outras matérias virgens para ser reciclado novamente, podendo fazê-lo infinitas vezes sem perder suas características principais. Entretanto, devido a problemas no descarte, na falta de infraestrutura de coleta e processamento na cadeia, o vidro pós-consumo acaba se misturando com diversos contaminantes antes de retornar à indústria.

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“Queremos aumentar a reciclagem de vidro em regiões do país onde ainda não era viável. Ao fomentar a base da cadeia e a venda desse material por parte das cooperativas diretamente para a indústria, incentivamos a geração de empregos e renda, bem como a redução da extração de matéria-prima virgem do ambiente, a redução no consumo de energia e das emissões de CO2. Outro aspecto importante é que ao reciclar o vidro, é possível aumentar a vida útil dos aterros sanitários, bem como diminuir as despesas do poder público relacionadas ao descarte desse material”, explica Alexandre Macário, gerente da área de Economia Circular da O-I.

De acordo com o Erich Burger, fundador e diretor institucional do Instituto Recicleiros, o contrato firmado entre O-I e Recicleiros representa um marco na relação entre cooperativas e indústria, pois foi negociado tendo como premissa um elemento básico fundamental na formação do preço, a garantia de remuneração mínima-justa do processo produtivo.

“De um lado, entregamos o que há de mais produtivo e seguro em termos de processo, com vistas a obter um material de muita qualidade, processado com os melhores padrões de segurança e produtividade. Do outro, a indústria reconhece os atributos de qualidade e a garantia de origem sustentável do produto, o que gera valor em um mercado pautado pela agenda ESG e os compromissos globais das grandes empresas”, diz Erich Burger.

Parceria baseada na eficiência e padrão de qualidade

A viabilidade desta parceria está baseada num modelo de busca de eficiência e padrão de qualidade que possa trazer mais valor para o material pós-consumo produzido nas unidades de triagem. Com equipamentos e processos produtivos adequados, além da busca contínua pela melhoria dos indicadores de produção, torna-se possível oferecer um material com os padrões de qualidade desejados pelos recicladores, eliminando perdas ao longo de todo o processo. Com isso é possível trazer mais valor para a negociação de venda do material, tornando viável do ponto de vista econômico o retorno desses cacos para serem reciclados.

Na visão de Erich, este é um produto diferenciado, que não pode ser tratado como outro qualquer. “Entregamos um material com rastreabilidade ponta a ponta e garantia de origem digna para que seja transformado em novos produtos e embalagens”, afirma. 

O vidro processado nas Unidades de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMR) incubadas pelo Instituto Recicleiros é fruto de um projeto que começa com a criação de políticas públicas municipais apoiadas pela Academia Recicleiros do Gestor Público, da instalação de infraestrutura qualificada nas cidades, que oferece ao catador um ambiente saudável, seguro e estimulante para o trabalho, além de equipamentos que permitem melhores taxas de produtividade. Adicione-se a isso o fator remuneração mínima-justa dos catadores, primeira linha considerada na formação do preço de venda do material.

A iniciativa da Owens-Illinois ajuda a consolidar um conceito fundamental para quem quer fazer essa cadeia de recuperação de materiais pós-consumo acontecer. Inclusive, esta tem sido uma bandeira prioritária no Instituto Recicleiros: debater o tema junto à indústria.

“Responsabilidade compartilhada gera prosperidade coletiva. Enquanto maior recicladora de vidro do mundo, entendemos a urgência de unir esforços entre os diversos agentes da cadeia a fim de criar modelos de negócio que não só promovam a transição para economia circular, mas, que, principalmente, tragam adicionalidade à massa de vidro reciclada no país, de forma profissional, eficiente, ética e inclusiva, unindo indústria, cooperativas, poder público, marcas e consumidores. Recicleiros traz justamente esta proposta e decidimos apostar juntos”, acrescenta Macário.

Lógica necessária para a solidez de um grande projeto

Houve um avanço nos últimos anos com o entendimento da indústria e do governo sobre a importância das ações estruturantes para alavancar a capacidade de recuperação do material reciclável de maneira qualificada e conectada com o serviço público de limpeza urbana. Agora, para preservar e potencializar esse investimento é fundamental se olhar para o protagonismo que os contratos de venda do material têm na viabilidade econômica dessas unidades de triagem. 

É essencial que a indústria entenda que a oscilação de preços coloca em xeque a viabilidade operacional das cooperativas e, portanto, coloca em risco todo o investimento feito em infraestrutura e capacitação técnica dos catadores. Garantir o preço mínimo que viabiliza a operação digna dessas unidades de triagem operadas por catadores é dar a mínima condição desses prestadores de serviço se manterem ativos e animados para que os resultados almejados pela cadeia de valor aconteçam.

“As embalagens usadas precisam ser recicladas, isso é uma condição. Então precisamos olhar para o sistema produtivo e identificar o que ele precisa para ser o mais eficiente possível sem abrir mão da dignidade e justiça social. Nossa proposta é entregar qualidade e previsibilidade para a indústria recicladora por meio de um processo justo e sustentável”, acrescenta o diretor do Instituto Recicleiros.

Parceria inspiradora e com visão de futuro

O Decreto 11.300, de 2022, traz mudanças importantes a fim de criar um ecossistema que aumente os índices de reciclagem de vidro no Brasil. Esse acordo entre O-I e Recicleiros busca apoiar a amarração final dessa visão de construção de ecossistema, uma vez que para se criar adicionalidade na reciclagem (decreto 11.413/23 de Crédito de Massa Futura) e garantir o cumprimento das metas de recuperação de vidro (Decreto 11.300/22) é preciso investir não só em infraestrutura, mas também ter o compromisso da indústria com o preço mínimo – que viabiliza o processamento e transporte do material para reciclagem.

“O conceito de valor mínimo, que considera os custos do processo produtivo na formação do preço do material reciclável, com especial enfoque no custo da mão-de-obra dos catadores, é uma bandeira prioritária no Instituto Recicleiros para todos os materiais pelo impacto que isso tem no desenvolvimento da cadeia de valor, no aumento da reciclagem e na dignidade dos postos de trabalho dos catadores. Este é o primeiro contrato que celebramos com esse enfoque e espero que inspire um movimento nesse sentido”, comenta Rafael Henrique, fundador e diretor de operações do Instituto Recicleiros.

Transformação da realidade socioambiental

A parceria entre Recicleiros e O-I vai gerar um grande impacto positivo na cadeia produtiva.

“Esse contrato representa mais um avanço na retomada da valorização das catadoras e catadores de materiais recicláveis, buscando garantir remuneração minimamente digna pelo importante serviço prestado por esses trabalhadores e também segurança para a empresa quanto à origem dos resíduos triados. Esperamos que esse modelo possa ser replicado para outros tipos de materiais, pois sabemos que sem a remuneração justa dos serviços dos catadores não conseguiremos avançar na reciclagem e na melhoria de suas condições de trabalho”, enfatiza Sabrina Gimenes de Andrade, Coordenadora Geral de Logística Reversa do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Cleiciane Soares, Presidente da Recicla Caldas Novas, uma das cooperativas beneficiadas diretamente pela parceria, já que faz parte do Programa Recicleiros Cidades, comenta sobre os impactos do acordo não apenas para a unidade, mas para o todo. 

“Esses contratos longos só têm a ajudar as cooperativas a manter o projeto, a crescer ao longo do tempo e a ter mais cooperativas abraçadas por ONGs como Recicleiros, para que mais pessoas possam sair dos lixões e virem trabalhar com equipamentos, limpos, dignos, em um local bem cuidado, onde serão bem tratados, bem vistos e a gente só tem a crescer com contratos assim”, diz Cleiciane.

Por fim, Rhaiza Matos, prefeita de Naviraí (MS), uma das 14 cidades que fazem parte do Programa Recicleiros Cidades, traz seu ponto de vista.

“A parceria que a Prefeitura de Naviraí tem com o Instituto Recicleiros tem sido fundamental para a implementação do Programa de Coleta Seletiva na nossa cidade. O vidro é um dos resíduos com a logística mais complicada e uma parceria nesse sentido vai nos garantir a destinação em maior quantidade e qualidade, proporcionando uma renda maior para os cooperados e um meio ambiente mais saudável”, encerra.

O acordo, acreditam as instituições, vai inspirar outros segmentos da indústria a fazer o mesmo e oferecer essa estabilidade necessária para a economia circular se desenvolver. Afinal, uma iniciativa como essa tem por trás um conceito de ecossistema de mercado envolvido. 

As cooperativas incubadas por Recicleiros ainda possuem desafios que precisam ser superados, como encontrar novos parceiros para o mesmo tipo de acordo, porém com outros materiais envolvidos, como plásticos e papel, por exemplo.

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