A Reciclagem Não Tira Férias: quando os dados guiam ação e mobilização

A campanha “A Reciclagem Não Tira Férias” nasceu de uma leitura atenta dos dados coletados pelo Programa Recicleiros Cidades. Em 2024, uma das metas do programa era ampliar a arrecadação de materiais recicláveis nas escolas municipais, de forma a fortalecer o engajamento de alunos, famílias, educadoras e educadores na coleta seletiva.

Durante a análise dos relatórios, um dado chamou atenção: em Cajazeiras (PB), a captação de materiais havia caído de 3,4 toneladas em abril de 2022 para 1,5 tonelada no mesmo período de 2023. Em contrapartida, observou-se um padrão de replicação entre mobilizadores, quando uma equipe iniciava a ação, outras cidades tendiam a acompanhar, mantendo uma média de cerca de 4 toneladas.

As equipes de campo também relataram que muitas escolas realizavam o descarte de materiais escolares sem possibilidade de reutilização, como livros e cadernos. A partir desse cenário, surgiu a pergunta central que orientou a campanha: como potencializar essa destinação e transformar esse momento em uma ação coletiva?

Assim se estruturou a campanha que envolve escolas, comunidades, cooperativas e gestores públicos em uma mobilização ambiental que ultrapassa o ano letivo.

Material arrecadado na campanha em Três Rios/RJ

Duas frentes de trabalho, um objetivo em comum

A campanha foi organizada em duas frentes principais, com estudantes incentivados a realizar o descarte adequado dos materiais usados ao longo do ano e as escolas responsáveis por encaminhar livros, apostilas e itens que não poderiam ser aproveitados no ano seguinte.

Com sugestões das equipes locais, a mobilização foi ampliada para toda a comunidade, por meio da instalação de Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) temporários em cooperativas, bibliotecas, secretarias e demais locais de grande circulação.

Ponto de entrega voluntária (PEV) em Serra Talhada/PE

A comunicação priorizou clareza e praticidade, conectando as redes sociais de prefeituras e cooperativas, grupos de responsáveis e bilhetes enviados pelas escolas. As ações resultaram em forte engajamento comunitário, os  moradores passaram a organizar caixas para coleta seletiva, famílias levam materiais aos PEVs e os cooperados são preparados para receber esse aumento no fluxo de resíduos recicláveis.

“A campanha ‘A reciclagem não tira férias’ é de suma importância para cooperativa, porque temos a chance de aumentar a massa devido ao descarte de cadernos e livros usados no ano letivo. No primeiro ano, entrou muito material de algumas escolas que estavam acumulando, demos muita sorte”, diz Daniela Paulino, Presidente da Cooperativa Recicla Guaxupé.

Parte do material arrecadado na campanha em Guaxupé/MG

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Impacto medido em toneladas e em participação

A campanha contou com a adesão de 9 das 12 cidades participantes do Programa Recicleiros Cidades e alcançou 136 toneladas de materiais arrecadados. O destaque ficou para Cajazeiras, que registrou 27,1 toneladas, quase 18 vezes mais que no ano anterior, contudo as outras cidades também revelaram mudanças na rotina da UPMR. 

Esse aumento expressivo de materiais foi comemorado por toda a equipe de triagem e mobilização, destacando a importância e impacto positivo direto que o trabalho cotidiano de uma cooperativa tem na comunidade.

“No primeiro ano, a dúvida sobre a adesão das escolas, pais e alunos deu lugar a uma grande surpresa: o sucesso! O trabalho de mobilização dos cooperados e a colaboração na divulgação de parceiros, o envolvimento de toda a comunidade escolar… a campanha arrecadou uma grande quantidade de livros, apostilas e papéis, muitos guardados há anos. Foi sucesso e fez uma enorme diferença para o trabalho da cooperativa e para o meio ambiente”, comenta Gisele Biléia, Líder Local de Guaxupé.

Um ciclo que se renova

As escolas participantes receberam certificados e a ação ganhou visibilidade nas mídias locais. No ano seguinte, a campanha foi replicada em novas cidades, consolidando-se como prática recorrente dentro do Programa Recicleiros Cidades.

Entrega de certificado pela Recicla Guaxupé à Escola Municipal Coronel Antônio Costa Monteiro.

O avanço da iniciativa demonstra como ações orientadas por dados podem gerar resultados sustentáveis, articulando educação ambiental, gestão de resíduos e participação comunitária. À medida que novos anos letivos se encerram, novas oportunidades de fortalecer essa mobilização continuam surgindo.

Mobilização orientada por dados: transformando informação em impacto

Quando falamos em Mobilização, aposto que você pensa logo nas ações feitas nas escolas com as crianças, nas ruas, nas campanhas… e é isso mesmo! Esse é o lado visível, que toca as pessoas. Mas, o que nem todo mundo sabe é que, por trás de tudo isso, existe uma estrutura enorme de dados, planilhas e análises que ajudam o setor a funcionar do jeito certo.

No contexto do Programa Recicleiros Cidades, a Mobilização passou por uma transformação silenciosa, mas profunda. O que antes era apenas o registro manual das tarefas realizadas e a percepção empírica se transformou em um modelo organizado e orientado por dados, onde cada ação é mapeada, analisada e transformada em conhecimento.

Do registro à inteligência

O processo foi gradual. Começamos com planilhas simples com registros que mostravam onde estivemos, quando, com quem e com qual objetivo. Mas, conforme o trabalho crescia, ficou claro que precisávamos enxergar além.

Foi assim que nasceram os dashboards de Mobilização: painéis dinâmicos que reúnem dados de campo, relatórios de eventos, resultados de campanhas e indicadores de impacto, que representaram uma verdadeira virada de chave. Hoje, conseguimos não apenas saber o que foi feito, mas como e por que cada ação gerou determinado resultado.

Dados que contam histórias

Esses números não são frios, eles contam histórias. Mostram o engajamento crescente da comunidade, as campanhas que mais despertam interesse, os territórios que demandam atenção e os resultados das ações de educação ambiental.

Cada ponto no gráfico representa uma ação, com pessoas reais, que se envolveram, participaram e transformaram seu entorno. E é justamente isso que torna a Mobilização do Instituto Recicleiros única: a combinação entre encantamento humano e precisão analítica.

Eficiência com propósito

Com essa estrutura, o planejamento ficou mais estratégico. As equipes conseguem cruzar dados de participação, adesão e engajamento, além de identificar tendências e gargalos.

Os dashboards permitem atuar com agilidade, reforçando o princípio da melhoria contínua, um dos pilares da Mobilização. Agora, cada reunião, campanha e nova ideia nascem sustentadas em evidências. Isso garante que o trabalho em campo seja inspirador, eficiente e mensurável.

É aí que a Mobilização se torna ainda melhor. Quando você consegue enxergar os resultados de forma clara, tudo ganha outro ritmo. As reuniões ficam mais objetivas, as campanhas são pensadas com base no que deu certo (e no que não deu), e o tempo em campo é usado com mais estratégia.

A verdade é que os dashboards viraram uma espécie de bússola. Não substituem o olhar humano, mas dão base a ele. Afinal, mobilizar continua sendo sobre pessoas, conversa e vínculo. A diferença é que agora temos informação estruturada para apoiar cada decisão.

Um futuro orientado por dados e pessoas

A Mobilização segue sendo o ponto de partida das transformações nas cidades. Mas, hoje, é também um espaço de análise, planejamento e aprendizado.

Cada dado registrado é uma semente plantada e cada insight gerado é um passo em direção a comunidades mais engajadas e cooperativas mais fortalecidas.

Porque mobilizar é, sim, sobre pessoas, mas também sobre entender o que os dados nos contam sobre elas para seguir transformando realidades com mais clareza, eficiência e impacto.

A Mobilização segue em crescimento, se reinventando e aprendendo com o que os dados mostram e com o que as pessoas ensinam. Porque é assim que o encantamento e a análise se encontram: um orienta o outro.

Parceria entre Recicleiros e NEPER/USP completa um ano com razões para comemorar

Há um ano, o Instituto Recicleiros e o NEPER/USP – Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) – anunciaram uma parceria inédita. O objetivo central era unir o conhecimento técnico e prático de Recicleiros no campo da reciclagem inclusiva com o rigor acadêmico e a produção de conhecimento científico de uma das universidades mais conceituadas e respeitadas da América Latina.

À época, falou-se da união entre teoria e prática e na proposta de gerar um legado positivo para a sociedade brasileira. Agora, 12 meses após a assinatura do acordo, o sentimento é de celebração por tudo o que se realizou até aqui e, também, pelas perspectivas que a união entre academia e terceiro setor ainda podem gerar.

A cooperação previa uma série de ações benéficas para o todo, entre elas a elaboração conjunta de projetos de pesquisa; organização de eventos científicos e técnicos; intercâmbio de informações e publicações; e levantamento de estudos de casos a partir da realidade vivida por Recicleiros.

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Cooperativas incubadas por Recicleiros são referência em estudos de gravimetria

Desde o início, a interação com o NEPER foi vista como um impulso fundamental para o Vox Lab, o laboratório de pesquisas de Recicleiros, que, entre suas ações, busca entender os fatores que influenciam a população no que diz respeito à reciclagem. O Vox Lab, vale lembrar, conta com o fomento da SIG para os projetos de pesquisa.

“Durante o Simpósio de Resíduos Sólidos, realizado pelo NEPER/USP com apoio do Instituto Recicleiros, apresentamos a nossa pesquisa que vem sendo realizada há dois anos com o propósito de traçar o perfil das pessoas que reciclam, das pessoas que não reciclam e conhecer um pouco mais os motivadores que fazem as pessoas engajarem ou não na coleta seletiva. Apresentamos esses dados para a comunidade acadêmica e para os participantes do Simpósio e foi muito positivo esse momento de troca. Essa é a essência do Vox Lab, produzir dados, compartilhar com a academia e fazer uma pesquisa aplicada que mude realidades e que sejam dados para tomadas de decisão”, comemora Mônica Alves, Pesquisadora do Instituto Recicleiros.

Para Recicleiros, a consolidação desse trabalho é a materialização de um dos pilares do Vox Lab. “O Vox Lab surgiu para consolidar o que já fazia parte do DNA do Instituto Recicleiros, que é criar e compartilhar conhecimento. Então, chegar a esse ponto de ter uma troca com a Academia, como no Simpósio de Resíduos Sólidos, além de outros profissionais da área, trocar olhares e receber ideias é muito valioso para nós. É muito satisfatório saber que chegamos até aqui em pouco tempo e com certeza a gente tem muito mais a contribuir e acrescentar”, comenta Luciana Ribeiro, Analista de Projetos que integra o time de Pesquisa do Instituto Recicleiros.

Do lado do NEPER, a avaliação é que a parceria tem gerado bons resultados, a partir de uma via de mão dupla, onde o conhecimento e a pesquisa transitam sem reservas.

“O balanço desse um ano de parceria é muito positivo. Na universidade pública, a gente está interessado em formar quadros qualificados, produzir conhecimento de qualidade e ser um indutor de mudanças na sociedade para além dos muros da universidade e entendo que a parceria com o Instituto Recicleiros atingiu todos esses objetivos. Temos pesquisas de pós-graduação sendo feitas, artigos científicos sendo elaborados e levamos o conhecimento da universidade para o Instituto Recicleiros, que é o agente dessa mudança. A parceria traz conhecimento técnico e análise rigorosa nos dados, então foi muito positivo esse primeiro ano”, avalia Guilherme Oliveira, professor doutor e vice-coordenador do NEPER.

“Nesse ano de parceria, destaco a importância da disponibilidade de dados para pesquisa. Sou uma das pós-graduandas que desenvolve pesquisa junto com o Instituto Recicleiros e, dentro da área de resíduos, assim como em toda a área acadêmica, é necessário o acesso aos dados com possibilidade de publicidade. Durante esse ano, conseguimos desenvolver três projetos de mestrado com essa possibilidade de parceria e diálogo aberto entre o Instituto Recicleiros e a universidade”, revela Ana Teresa Sousa, mestranda na EESC-USP e integrante do NEPER.

O primeiro ano foi de semeadura, mas também de colheita. Os próximos devem ampliar ainda mais o impacto positivo desse ciclo virtuoso de gerar conhecimento com rigor acadêmico, que retorna para a sociedade na forma de métodos aplicáveis e replicáveis e deixa um legado importante para a gestão de resíduos sólidos no Brasil.

Cooperativas incubadas por Recicleiros são referência em estudos de gravimetria

O Instituto Recicleiros se consolida, ao longo de sua história, como um verdadeiro laboratório vivo à disposição da sociedade para o avanço da reciclagem no Brasil. Essa trajetória ganha ainda mais relevância com os recentes estudos de gravimetria realizados nas Unidades de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMRs) que fazem parte do Programa Recicleiros Cidades.

Além de receber, processar e comercializar os recicláveis e, assim, transformar a realidade socioambiental nos municípios, as cooperativas de reciclagem lideradas por catadoras e catadores, com assessoria técnica do Instituto Recicleiros, estão gerando informações e conhecimento compartilhável e, portanto, servindo não apenas à comunidade local, mas produzindo conhecimentos acadêmicos, tão importantes para tomadas de decisão sobre a reciclagem no Brasil.

Ainda que a gestão de resíduos sólidos seja um assunto que ganha cada vez mais pauta, existe uma carência de dados no país sobre a área de reciclagem de resíduos, inclusive entre o meio acadêmico. Ter a oportunidade de abrir nossas portas para parcerias interessadas em conhecer e pesquisar essa realidade é motivo de muita satisfação. Sem falar que, além de compartilhar nossa expertise, também aprendemos coisas novas no processo”, conta Luciana Ribeiro, Analista de Projetos do Instituto Recicleiros.

Todo esse trabalho de pesquisa e organização do conhecimento, é bom lembrar, é administrado pelo Vox Lab, área da organização responsável por produzir conteúdo com metodologias científicas e dividi-los abertamente com toda a sociedade brasileira. O objetivo principal? Contribuir para o desenvolvimento de ações eficientes para o aprimoramento da coleta seletiva e reciclagem de impacto no país.

A importância do estudo gravimétrico

Antes, porém, de detalhar as ações recentes ligadas à gravimetria que aconteceram nas cooperativas de reciclagem incubadas por Recicleiros, é prudente entender a relevância dessas análises.

O estudo gravimétrico é essencial para compreender o perfil dos resíduos gerados em um determinado município, o que envolve uma análise detalhada da quantidade e da qualidade do lixo. Para além de um diagnóstico, a gravimetria é fundamental para se planejar ações eficientes na gestão de resíduos sólidos, logo, permite técnicos e gestores públicos tomarem decisões embasadas e mais conscientes.

Nesse contexto, a gravimetria dos resíduos exerce uma função importante para o planejamento adequado dos serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos, uma vez que evita desperdícios e, ao mesmo tempo, promove a sustentabilidade.

Outro ponto importante é que o estudo gravimétrico oferece percepções interessantes para a criação de políticas públicas alinhadas à realidade local, já que permite ligar a geração de resíduos a fatores socioeconômicos e culturais da população. Dessa forma, cada município comprometido com a coleta seletiva e reciclagem pode desenvolver novas estratégias a fim de garantir uma gestão de resíduos mais inteligente e eficiente.

Por que estudos gravimétricos nas cooperativas apoiadas por Recicleiros?

As Unidades de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMRs) têm se mostrado um ambiente fértil e produtivo para pesquisas por uma razão principal: são estruturadas e organizadas. As plantas que integram o Programa Recicleiros Cidades seguem padrões de produção diferenciados. Por exemplo, a eficiência no processo de triagem e prensagem dos materiais, que facilita a obtenção de dados precisos sobre a composição dos resíduos, são ideais para pesquisas de gravimetria.

Em Caçador (SC), foi feita uma gravimetria contratada pelo município para um Instituto de Pesquisa com sede na capital Florianópolis. A cooperativa Recicla Caçador, incubada por Recicleiros, participou tanto da separação dos materiais quanto da análise da qualidade dos materiais, assim como sugestão de melhorias no processo. 

Outro exemplo notável aconteceu na Cooperativa Recicla Campo Largo. Ricardo Beckert Trevisan, Mestrando em Ciência e Tecnologia Ambiental na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), está investigando como os rejeitos de cooperativas e associações de reciclagem podem se tornar Combustível Derivado de Resíduo Urbano (CDRU), uma solução que evita aterros sanitários e gera energia. 

“Foram quatro visitas, três delas dedicadas à análise gravimétrica detalhada dos rejeitos gerados na Cooperativa, onde os materiais foram classificados por tipo e por categoria. A Recicla Campo Largo é exemplar: limpa, bem estruturada e com dados em tempo real. Foi interessante ver como um bom gerenciamento pode transformar o que seria lixo em uma fonte de energia sustentável, ao invés de ser destinado ao aterro sanitário”, comentou Trevisan.

Por fim, vale destacar o estudo em andamento sobre gravimetria de rejeitos, realizado dentro do Acordo de Cooperação entre o Instituto Recicleiros e o Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos (Neper), da Universidade de São Paulo. Neste caso, a UPMR referência para o desenvolvimento do trabalho é a cooperativa Recicla Guaxupé, em Minas Gerais.

A pesquisa “Análise Qualitativa e Quantitativa dos Rejeitos da Coleta Seletiva dos Resíduos Domiciliares Gerados no Município de Guaxupé Visando Melhorias no Seu Gerenciamento” está sendo conduzida pelo mestrando Rafael da Cunha Faria.

“A Recicla Guaxupé é referência e a experiência dentro da unidade tem sido fantástica. O ambiente de trabalho é adequado, os cooperados têm condições dignas, usam equipamentos de proteção, além de uma infraestrutura geral muito boa. A rotina da cooperativa vale ser destacada. Com o trabalho de educação ambiental, os resíduos que chegam na cooperativa tem qualidade e o índice de recuperação de resíduos é muito bom. Os processos internos são muito bem definidos”, comenta Rafael.

“Tenho recebido todo o suporte necessário, o time Recicleiros está sempre presente e tem sido peça fundamental para o estudo. O interesse de Recicleiros em produzir informação e deixar pública, gerando valor, principalmente na área de rejeitos que ainda é estigmatizada, é muito significativo”, finaliza.  

Com todas essas movimentações de estudos e pesquisas dentro das cooperativas, as Unidades de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMRs) do Programa Recicleiros Cidades não apenas promovem a gestão eficiente dos resíduos sólidos, mas também se tornam referências acadêmicas e práticas para estudos de gravimetria. Essa sinergia entre prática e pesquisa fortalece políticas públicas e impulsiona o avanço da reciclagem e sustentabilidade no Brasil.

Programa Recicleiros Cidades: conheça a história do jingle que avisa as pessoas que o caminhão da coleta está chegando

O dia 6 de janeiro entrou para a história do Instituto Recicleiros. Foi na noite daquela segunda-feira que, em meio à matéria especial do Jornal Nacional sobre reciclagem, surgiu a música “Plástico, vidro, papel, metal e óleo de cozinha… não jogue no lixo comum, separe pro dia do caminhão da reciclagem”.

O jingle, criado em 2018, e que está até hoje sendo tocado nos caminhões de coleta seletiva nos municípios que integram o Programa Recicleiros Cidades, abriu a participação do Instituto Recicleiros na série especial de quatro episódios sobre reciclagem exibido no maior e mais tradicional telejornal brasileiro.

Mas, qual é a história por trás dessa música leve e convidativa que vem marcando época e serve como um lembrete às pessoas que o caminhão da reciclagem está chegando?

 

O jingle que ganhou o Brasil

Há 7 anos, Recicleiros buscava iniciativas para conscientizar as pessoas dos municípios beneficiados com o Programa Recicleiros Cidades. A proposta era alertar a população que o caminhão da reciclagem estava passando para que os munícipes, dia a dia, adotassem o hábito de fazer a separação e a destinação correta. Afinal, para a reciclagem acontecer, de fato, é essencial que os materiais cheguem às Unidades de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMRs).

“Então surgiu a ideia de usar o caminhão como mídia porque o veículo passa em frente à casa das pessoas, além de um jingle para ser veiculado nas rádios locais”, lembra Felipe Sauma, Diretor de Criação, responsável por coordenar o desenvolvimento desse material.

De acordo com Sauma, o processo criativo considerou uma música que ficasse na mente dos ouvintes – lembra da música do caminhão do gás? –, mas sem criar poluição sonora. Havia o compromisso de ser uma música leve, cadenciada, mas com um tom animado, e com um refrão e uma instrução no final.

A música, desenvolvida em cerca de um mês, conta com elementos sonoros de materiais recicláveis, que serviram como percussão. Todos os itens estavam representados. “Estudamos os timbres para ver quais funcionariam melhor na música. Por exemplo, utilizamos sons de garrafas de vidro, papel amassado, tina de plástico e latão de metal”, acrescenta que se diz realizado com essa produção: “estamos trabalhando a mudança de cultura das pessoas, que estão cuidando do meio ambiente”.

Propósito de informar e conscientizar

Como a separação e o descarte correto são essenciais para a reciclagem funcionar, o jingle cumpre uma missão importantíssima na adesão da coleta seletiva e reciclagem. É isso o que tem ficado evidente nas praças que contam com cooperativas de reciclagem incubadas pelo Instituto Recicleiros.

Nas pesquisas Vox Lab realizadas por Recicleiros nos municípios onde o Programa está em pleno funcionamento, o carro de som foi um dos meios de comunicação mais votados pela população como um bom local para receber informações sobre a coleta, atrás apenas do rádio e redes sociais.

Durante as mobilizações porta a porta, é muito comum que os munícipes se refiram ao caminhão da coleta seletiva como “aquele da musiquinha”. Também não é raro ver moradores que preferem entregar o material para os coletores e, para isso, esperam ouvir a música se aproximando. E é claro, outro grande indicador de sucesso sempre será o engajamento das crianças, que costumam reproduzir a música em casa ou em atividades escolares. Sinal que o jingle tem cumprido seu propósito.

Ficha técnica

Música

“Separe pro caminhão da reciclagem.”

Direção de Criação

Felipe Sauma

Composição

Daniel Ayres

Felipe Sauma

Rodrigo Scarcello

Produção

Rodrigo Scarcello

Músicos

Ed Encarnação

Raphael Zarella

Rodrigo Scarcello

 

 

Como a reciclagem pode colaborar no combate às mudanças climáticas?

A reciclagem é mais do que apenas um simples ato de separar e destinar resíduos. É um processo de transformação, onde o que se achava que não tinha valor vira algo novo, como uma metáfora para o próprio futuro que queremos para o nosso planeta. À medida que enfrentamos as mudanças climáticas, ela se torna um caminho fundamental para garantir o bem-estar ambiental e social, transformando o ciclo da produção e do consumo em algo equilibrado em todos os sentidos.

Realidade das mudanças climáticas: causas e consequências

As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios globais do século XXI. Fenômenos como o aumento das temperaturas médias globais, a frequência crescente de eventos climáticos extremos e a perda irreversível da biodiversidade são consequências de como lidamos coletivamente com a natureza. Grande parte dessa degradação ambiental é impulsionada pela crescente demanda por recursos naturais e pela produção excessiva e descarte inadequado de resíduos sólidos.

No Brasil, aproximadamente 4% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) provêm do setor de resíduos sólidos, 64,1% desse total resulta da destinação inadequada de resíduos em lixões, aterros controlados e aterros sanitários, e esse número pode aumentar se não adotarmos práticas de gestão integrada.

Logo, a reciclagem se torna uma estratégia central para mitigação das consequências das mudanças climáticas.

A economia circular 

No Brasil, apenas 4% dos resíduos sólidos são reciclados, segundo dados da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (ABREMA). Há muito o que se fazer para aumentar essa taxa, dentre as estratégias, podemos aprimorar processos de reciclagem a partir da economia circular, onde os produtos não seguem um ciclo linear de produção-consumo-descarte, mas são constantemente reintegrados no ciclo. Ou seja, em vez de extrair recursos da Terra, se reaproveita os materiais que já foram anteriormente produzidos, isso preserva os ecossistemas naturais e reduz a pressão sobre o que tiramos da natureza, que são recursos finitos.

A reciclagem de plástico, vidro, papel, metal e óleo de cozinha reduz o volume de resíduos nos aterros sanitários e no meio ambiente, evitando a liberação de metano — um gás de efeito estufa com um impacto 82,5 vezes maior que o dióxido de carbono (CO2) ao longo dos próximos 20 anos.

Porém, para que as cadeias de reciclagem sejam capazes de conduzir alguma mudança nesse cenário, é urgente que aconteça a integração dos setores e seus atores e se crie uma cultura de responsabilidade compartilhada.

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A urgência da ação coletiva

Embora as vantagens da reciclagem sejam visíveis, a transição para um sistema de gestão de resíduos sustentável depende do esforço coletivo. É central que governos, indústrias e cidadãos desempenhem seu papel da melhor forma possível.

Governos precisam pensar em políticas públicas que incentivem a reciclagem em larga escala, oferecendo incentivos para as organizações, além de investir em infraestrutura de coleta e processamento de materiais recicláveis. As indústrias, por sua vez, podem adotar a economia circular como modelo de negócios, integrando a reciclagem como uma prática intrínseca em seus processos produtivos. E, por último, os cidadãos precisam compreender as questões de reciclagem como um direito e um dever, compreendendo a importância da separação adequada dos resíduos e se comprometendo com o consumo responsável, tudo isso com possibilidade de acesso à informação e fortalecimento comunitário.

O Instituto Recicleiros é uma das organizações comprometidas com essa pauta, atuando como um agente integrador entre prefeituras, empresas, catadoras e catadores. Por meio de sua atuação, o Instituto capacita gestores públicos municipais para implementar políticas públicas voltadas à coleta seletiva e à reciclagem, enquanto apoia processos de incubação de cooperativas de reciclagem, colaborando para que se tornem empreendedores coletivos organizados. Além disso, busca mobilizar a população através de ações de educação socioambiental para que a cadeia da reciclagem entre em circularidade onde todos os atores são engajados.

Ainda há chances

O poder de transformação está em nossas mãos, e com cada gesto, estamos não só protegendo o ambiente, mas também construindo um futuro onde o respeito à natureza é a base para uma convivência harmônica com nosso planeta.

O futuro está sendo moldado hoje. Reciclar é acreditar que um mundo com justiça socioambiental é possível e que as mudanças climáticas não são um destino, mas uma chance para nos reinventarmos.

Fontes:

Global Alliance for Incinerator Alternatives. RESÍDUO ZERO PARA ZERO EMISSÕES: A REDUÇÃO DE RESÍDUOS COMO A VIRADA DE JOGO CLIMÁTICA. out. 2022. Disponível em: <https://polis.org.br/wp-content/uploads/2023/05/completo-ZWZE-paginaunica.pdf>

Como Guaxupé (MG) está desbravando a economia circular, a partir de uma parceria entre Delterra e Recicleiros

Delterra e Recicleiros estão colaborando para implementar abordagens inovadoras no Brasil, trazendo melhorias significativas na participação da reciclagem e nas taxas de recuperação de materiais. Essa parceria público-privada na cidade de Guaxupé (MG), exemplifica como cidades do Sul Global podem desenvolver sistemas sustentáveis de gestão de resíduos.

Guaxupé, cidade brasileira reconhecida por sua produção de café de alta qualidade, vem ganhando destaque nos últimos anos pelos avanços na gestão de resíduos sólidos e nas práticas de economia circular. Recentemente, um projeto colaborativo entre Delterra e Recicleiros tem evidenciado a transformação dos hábitos de reciclagem da comunidade local.

Uma parceria estratégica para um impacto sustentável

O Instituto Recicleiros, uma organização da sociedade civil de destaque no setor de reciclagem no Brasil, traz anos de experiência e um profundo entendimento dos contextos locais para uma parceria transformadora. Reconhecida por seu compromisso com a sustentabilidade socioambiental, Recicleiros tem sido fundamental no fomento ao engajamento comunitário e no apoio a redes de cooperativas em diferentes partes do Brasil, incluindo Guaxupé (MG). O conhecimento e a conexão com a realidade local fortalece o projeto com estratégias sob medida e uma abordagem de confiança.

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Recicleiros fecha parcerias para promover mudança de comportamento para reciclagem

A Delterra é uma organização global sem fins lucrativos que trabalha para reduzir resíduos e maximizar o reaproveitamento de materiais, incluindo plásticos e orgânicos. Seus programas abrangem toda a cadeia de valor, colaborando com cidades para construir sistemas de gestão de resíduos e reciclagem que aumentem a qualidade e a quantidade de materiais recuperados e com empresas para desenvolver mercados, ampliar a capacidade de processamento e a demanda, além de tornar as cadeias de valor mais eficientes, transparentes e éticas. Por meio dessa colaboração, a Delterra adaptou seu modelo comprovado de mudança de comportamento — desenvolvido na Argentina e na Indonésia — ao contexto cultural e social único do Brasil.

Juntas, Delterra e Recicleiros, com o apoio da Alliance to End Plastic Waste, estão criando sistemas de reciclagem sustentáveis com foco nas especificidades locais, garantindo um impacto positivo de longo prazo.

Unidade de Processamento de Materiais Recicláveis da cooperativa Recicla Guaxupé.
Imagem: Unidade de Processamento de Materiais Recicláveis da cooperativa Recicla Guaxupé.

Compreender os motivadores culturais para a mudança

O projeto foi lançado com uma fase intensiva de pesquisa envolvendo a comunidade. Residentes, tanto recicladores quanto não recicladores, foram entrevistados individualmente ou em grupos focais, com o objetivo principal de entender os fatores culturais que influenciam o comportamento de reciclagem em Guaxupé. As descobertas ressaltaram a importância de enquadrar a reciclagem como um dever cívico coletivo, além de destacar o aspecto social do serviço — que não apenas beneficia o meio ambiente, mas também apoia os trabalhadores da cooperativa de reciclagem Recicla Guaxupé. Isso levou ao lançamento do programa Separa+, que enfatiza a ideia de que os esforços de cada indivíduo contribuem para uma comunidade mais saudável.

Motivadores culturais para mudança de comportamento em Guaxupé.
Imagem: Motivadores culturais para mudança de comportamento em Guaxupé.

Construir um modelo de sucesso

Após socializar os insights exclusivos destacados pela pesquisa com a população local, Delterra e Recicleiros rapidamente desenvolveram um plano de mudança de comportamento visando expandir a iniciativa para toda a cidade em um ano, começando com um piloto para testar a abordagem. O governo local também foi envolvido no desenvolvimento dessas estratégias, o que aumentou a viabilidade técnica do projeto. Esse processo de cocriação garantiu que todas as intervenções fossem relevantes para a comunidade. Na prática, a abordagem para gerar engajamento e participação combinou interações porta a porta, comunicação digital e em massa, além de um chatbot para guiar os moradores no processo de reciclagem.

Equipes da cooperativa Recicla Guaxupé, Prefeitura, Delterra e Recicleiros trabalhando no plano.
Imagem: Equipes da cooperativa Recicla Guaxupé, Prefeitura, Delterra e Recicleiros trabalhando no plano.

Fortalecer agentes locais de mudança

Um diferencial importante do projeto foi sua integração com a campanha de prevenção à dengue de Guaxupé. Ao trabalhar com agentes de saúde que já realizam visitas regulares às residências como parte de suas funções, foi possível vincular a reciclagem à saúde pública, incentivando ainda mais a participação da comunidade. Isso foi viabilizado pelas altas taxas de receptividade nas visitas e pelas relações de confiança que esses agentes já haviam estabelecido com os moradores atendidos.

Ao mesmo tempo, a cooperativa local, Recicla Guaxupé, continuou seus esforços educativos em residências e comércios, como vinha fazendo consistentemente desde o início da coleta seletiva na cidade, em 2020.

Ao unir esses esforços distintos, essa parceria inovadora maximizou os recursos e criou uma mensagem unificada: a reciclagem proporciona benefícios ambientais e de saúde pública para toda a comunidade.

Membros da cooperativa Recicla Guaxupé—prontos para a ação. 
Imagem: Membros da cooperativa Recicla Guaxupé—prontos para a ação.

Resultados iniciais e impacto duradouro

A fase piloto, conduzida em um dos dez setores de coleta do município, apresentou resultados notáveis, destacando a eficácia da colaboração entre Delterra e Recicleiros. Durante um período de monitoramento de oito semanas no microterritório designado, foram observados os seguintes resultados:

  • A taxa de participação na área (medida pela quantidade de materiais coletados em relação ao potencial de geração de resíduos) alcançou um nível 3,5 vezes maior que no período anterior à ativação.
  • Houve um aumento de 33% no número de residências que passaram a separar materiais recicláveis para coleta nos pontos de descarte designados.

Embora esses resultados preliminares sejam muito positivos, tanto a Delterra quanto Recicleiros continuarão monitorando a participação ao longo do tempo para confirmar mudanças sistêmicas e duradouras. As conclusões finais serão apresentadas ainda em 2025.

Em parceria, Delterra e Recicleiros não apenas alcançaram melhorias nas taxas de reciclagem em curto prazo, mas também seguem desenvolvendo modelos para assegurar que essas transformações sejam profundas e duradouras. Aproveitando as vantagens de cada organização, essa parceria está criando um modelo replicável em outras comunidades pelo Brasil para alcançar o sucesso na reciclagem de resíduos.

Sobre Delterra e Recicleiros

O Instituto Recicleiros é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos fundada em 2006, que atua como um facilitador-chave entre administradores públicos, empresas, catadores de resíduos e a sociedade na abordagem de questões socioambientais. Entre suas iniciativas, Recicleiros foca na criação e incubação de cooperativas – abrangendo operações, administração e gestão – com o objetivo de capacitar catadores a se tornarem empreendedores coletivos qualificados organizados em cooperativas, promovendo o desenvolvimento sustentável de seus negócios. Atualmente, por meio do Programa Recicleiros Cidades, o instituto atua em 14 municípios em todas as cinco regiões do Brasil.

A Delterra é uma organização ambiental global sem fins lucrativos que projeta e desenvolve soluções inovadoras e escaláveis para enfrentar os desafios ambientais mais complexos do mundo – em campo e em larga escala. A Delterra trabalha com cidades, comunidades e o setor privado no Brasil, Argentina e Indonésia para transformar sistemas de reciclagem e gestão de resíduos, melhorando de forma eficaz os resultados ambientais e impulsionando a circularidade, ao mesmo tempo que beneficia a saúde, os meios de subsistência e a economia.

Em parceria com a Nestlé, Recicleiros faz pesquisa socioeconômica e de impacto com catadores

O Instituto Recicleiros, em parceria com a Nestlé, realizou uma pesquisa socioeconômica com catadores de materiais recicláveis que fazem parte do Programa Recicleiros Cidades. O objetivo é compreender a situação dos cooperados, medir a percepção dos profissionais sobre o trabalho realizado nas praças para desenvolver ações que contribuam positivamente e gerem impacto social tanto para as pessoas quanto para as cooperativas incubadas por Recicleiros.

“Nossa parceria é construída com base no conceito de inovação aberta. Convidamos a Nestlé não apenas para investir na Academia Recicleiros do Catador, mas para participar ativamente e trabalharmos juntos para gerar dados que vão servir de base para criar soluções e melhorias que impactem diretamente o dia a dia das organizações de catadores”, diz Ana Carolina Finardi, coordenadora de Negócios do Instituto Recicleiros. 

Promovida pelo segundo ano consecutivo, a pesquisa evoluiu e abordou neste ano cinco aspectos centrais: perfil; alimentação; trabalho nas cooperativas; avaliação das cooperativas; e visão sobre o Instituto Recicleiros. Esses dois últimos temas foram as novidades em relação à pesquisa do ano anterior.

“Como organização da sociedade civil, nossa missão estatutária inclui a promoção do desenvolvimento econômico e social, o combate à pobreza e a mobilidade social de indivíduos em situação de vulnerabilidade. O Programa Recicleiros Cidades é uma das principais ferramentas que utilizamos para atingir esses objetivos. A pesquisa de impacto com catadores é essencial para garantir que estamos no caminho certo. Essa pesquisa não só avalia se nossos esforços estão gerando os resultados desejados, mas também oferece indicadores valiosos que nos permitem medir a eficácia do programa ao longo do tempo”, afirma Ana Luisa Beall, Head de Compliance e Governança do Instituto Recicleiros.

“Com base nas informações coletadas, podemos identificar os pilares do programa que necessitam de melhorias, garantindo uma atuação mais efetiva e direcionada. Assim, a pesquisa de impacto se torna uma ferramenta estratégica para assegurar que nossa organização continue a promover mudanças significativas na vida dos catadores e na comunidade em geral”, acrescenta Ana.

Números da pesquisa

Ao todo, foram ouvidas 189 pessoas, a maioria mulheres (63%). 30% têm entre 25 e 34 anos e 27% entre 18 e 24 anos. Com relação à escolaridade, 30% possuem ensino médio completo, 21% ensino médio incompleto e 20% possuem ensino fundamental incompleto. Quanto à raça, 53% se identificam como pardos, 26% como brancos e 17% como pretos. No que se refere à moradia, a maioria reside em casas alugadas na periferia da cidade.

No aspecto da alimentação, a pesquisa constatou que a principal refeição do dia para os cooperados é o almoço. Entre os entrevistados, 22% afirmaram receber doações de refeições ou alimentos.

Em relação ao trabalho na cooperativa, 88% relataram uma melhoria na qualidade de vida após ingressarem na Unidade de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMR). Desses, 71% citaram os treinamentos e aprendizados no trabalho, 67% o aumento da renda e 57% mencionaram que se sentem mais valorizados no dia a dia. 

O ambiente geral da cooperativa – acolhimento, limpeza, organização, segurança, iluminação e saúde e bem-estar – foi amplamente bem avaliado, com exceção da temperatura, que ficou abaixo da média.

“Realizar a pesquisa com os catadores das cooperativas assessoradas por Recicleiros foi uma experiência bastante reveladora. Além de possibilitar conhecer a efetividade do nosso trabalho no processo de incubação da cooperativa, a pesquisa apresentou informações valiosas sobre a repercussão na vida dessas pessoas. Vimos percebendo que de fato há o impacto econômico, nas citações de melhoria das condições de vida e de trabalho, mas o que também tem chamado a atenção, é que muitos expressam o desejo de retomar a vida escolar, preocupação com as questões dos cuidados com a própria saúde e da família”, analisa Lusimar Guimarães Pereira, gerente do Núcleo de Desenvolvimento do Catador do Instituto Recicleiros.

A maioria dos cooperados recomendaria a cooperativa a um amigo ou conhecido como local de trabalho. 46% dizem estar satisfeitos em trabalhar na cooperativa e 34% se dizem muito satisfeitos. De modo geral, os cooperadores se sentem valorizados e reconhecem o impacto positivo que têm tanto para si mesmos quanto para a cooperativa. Além disso, consideram-se bem instruídos para realizar suas atividades diárias.

Por fim, os entrevistados reconhecem que o Instituto Recicleiros apoia de maneira positiva o seu trabalho, com o objetivo de promover mais dignidade e autonomia.

Recicleiros é uma OSC. Mas, o que isso significa?

OSC, OSCIP, ONG … o universo do terceiro setor tem algumas siglas que às vezes podem causar certa confusão no público. Porém, é importante conhecer algumas terminologias e suas conceituações. Assim, neste post vamos trazer luz a esse tema tão interessante.

Recicleiros é uma OSC, qualificada como OSCIP, e que também pode ser chamada de ONG. Complexo? Num primeiro momento, pode até parecer que sim. Mas, vamos começar esclarecendo as siglas, o que já vai deixar tudo mais claro. 

OSC é uma Organização da Sociedade Civil, ou seja, uma entidade que desenvolve ações de interesse público e relevância social sem visar lucro. O termo OSC está na Lei n° 13.019/2014, o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), legislação que regulariza a atuação das OSCs no Brasil.

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OSCIP é a sigla de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. Essa qualificação é concedida pelo Ministério da Justiça para organizações que atendam os requisitos da Lei nº. 9790/99 e tenham ao menos três anos de constituição. As duas leis (OSC e OSCIP) trazem requisitos referentes às boas práticas de governança; formas de relacionamento com o poder público e possibilidade de receber doações de empresas com incentivo fiscal. 

Por fim, uma ONG é uma Organização Não Governamental, isto é, uma entidade de caráter privado, sem fins lucrativos e que se dedica a diferentes causas, tais como sociais e ambientais. É uma espécie de apelido para as Organização da Sociedade Civil, nome este mais usual hoje em dia.

Na prática, o Instituto Recicleiros é uma Organização da Sociedade Civil (OSC), legalmente estabelecida, logo, uma associação sem fins lucrativos que está adequada à lei do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil e conta com a qualificação de OSCIP e, portanto, pode receber investimentos público ou da iniciativa privada para o desenvolvimento de suas atividades. E, também, pode ser chamada de ONG.

Associação sem fins lucrativos, mas com movimentação financeira?

Nesse contexto, o que significa ser uma organização sem fins lucrativos? Afinal, o Instituto Recicleiros tem movimentação financeira. Significa que pode ter atividade econômica, mas todo lucro, que é chamado de superávit no terceiro setor, deve ser investido nas finalidades a que se propõe, as quais estão estabelecidas no estatuto social, formado por regras internas que a própria organização define mais aspectos legais. 

O lucro por sua vez, não pode ser distribuído entre a diretoria, associados e os colaboradores, isso não é permitido pela lei. Então, quanto maior e mais impacto a OSC gerar, melhor. 

“Com regras mais rígidas que uma empresa, a OSC segue vários requisitos e princípios de boas práticas de governança que precisam ser cumpridos. Por exemplo, a organização tem que ser apartidária, divulgar as atividades financeiras, os relatórios de atividades, o estatuto social e a composição dos órgãos dirigentes”, explica Paula Mello, advogada e consultora jurídica do Instituto Recicleiros. 

Por fim, toda a movimentação financeira é pública, os documentos contábeis das OSCs são públicos porque essa é a prerrogativa legal. A sociedade pode ter acesso a essas informações das organizações. 

Na página de Transparência de Recicleiros, estão disponíveis ao público vários documentos, por exemplo, Balanço Patrimonial, Relatório Anual de Atividades, Estatuto Social, Certidões e Qualificações.

Recicleiros lança Relatório de Impacto Socioambiental 2023

Alinhada com sua política de inovação, transparência e governança, o Instituto Recicleiros lança oficialmente neste 17 de julho, a versão 2023 do seu Relatório de Impacto Socioambiental. 

Em sua segunda edição, o documento aberto ao público mostra os principais feitos da organização no decorrer de todo o ano passado em suas mais variadas frentes. E, mais do que isso, como esse movimento integrado da instituição está criando impacto socioambiental positivo ao envolver todo ecossistema da reciclagem, ou seja, catadores, gestão pública, setor empresarial e sociedade.

Ao longo de mais de 50 páginas, a nova edição do relatório anual traz um raio-x com os números atualizados das cooperativas que fazem parte do Programa Recicleiros Cidades, e também mostra como as iniciativas pioneiras de Recicleiros estão promovendo a mobilização social das catadoras e dos catadores que fazem parte das cooperativas de reciclagem incubadas.

Baixe aqui o Relatório de Impacto Socioambiental 2023 do Instituto Recicleiros.

Boa leitura!