Cooxupé fecha parceria para doar cerca de 15 toneladas de recicláveis à Recicla Guaxupé

A Cooxupé, Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé, acaba de fechar uma parceria com a Recicla Guaxupé, a cooperativa de catadores da cidade incubada pelo Instituto Recicleiros. Com o acordo, a Cooxupé destinará, por mês, à Recicla Guaxupé cerca de 15 toneladas de materiais recicláveis, principalmente plástico, papel e metal.

Desde o final de 2022, a Cooxupé já doava aproximadamente 5 toneladas de recicláveis para a Recicla Guaxupé. Desde o início das doações até a formalização da parceria, foram repassados à cooperativa de catadores cerca de 61 toneladas de recicláveis.

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Agora, com a parceria formalizada, o volume praticamente triplicará, causando grande impacto positivo nos resultados da cooperativa de reciclagem e, por consequência, na vida das 19 famílias que estão representadas na cooperativa. Para se ter uma ideia, em média, a Recicla Guaxupé processava até então pouco mais de 20 toneladas durante um mês, oriunda da coleta seletiva municipal e doação de grandes geradores.

Parceria pelo ambiental e pelo social

“Essa parceria é um projeto sustentável, sobretudo social, aderente ao princípio cooperativista número 6, a intercooperação. De cooperativa para cooperativa, acreditamos que o projeto proporcionará eficiência aos cooperados da Cooperativa de Reciclagem, proporcionando renda e trabalho digno”, explica Cairo Rômulo, Analista do Departamento de ESG da Cooxupé.

A atitude evidencia o compromisso socioambiental da Cooxupé, que promove uma série de ações no sentido de preservar o meio ambiente e apoiar as pessoas que mais precisam. 

“A Cooxupé tem uma preocupação muito grande com o meio ambiente. Há um notável compromisso com esse aspecto ambiental, por isso nos procuraram. Mas, também tem o lado social, que foi determinante para estreitarmos essa parceria. A partir da visita à Unidade de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMR), o time de ESG da Cooxupé se encantou com o que viu”, conta Bethania Modesto, líder local.

Trocas entre cooperados e ações de mobilização

Além da doação mensal de recicláveis, a parceria entre Cooxupé e Recicla Guaxupé prevê intercâmbio entre os cooperados. A proposta é uni-los em visitas nas unidades para trocas de conhecimentos. Os cooperados também farão mobilizações para conscientização da importância da reciclagem, além de dicas práticas sobre o que é o que não é reciclável para os cooperados da Cooxupé.

“Quando surgiu a possibilidade de ter a Cooxupé como grande gerador ficamos muito entusiasmados, tendo em vista a potência que ela representa para Guaxupé, para a região e para o Brasil. Para nós, uma cooperativa de reciclagem no início, foi satisfatório demais. Receber esse material está sendo muito importante para a gente, pois nos proporciona um aumento considerável de massa, que faz nossas expectativas de crescimento para a cooperativa se concretizarem”, afirma Daniela Paulino da Silva, presidente da Recicla Guaxupé.

O acordo entre Cooxupé e Recicla Guaxupé despertou o interesse de outras organizações da região, que manifestaram a intenção em contribuir com a cooperativa de reciclagem por meio da doação de seus resíduos sólidos. Vale lembrar que o Instituto Recicleiros vem fomentando acordos entre grandes geradores de resíduos sólidos e as cooperativas de reciclagem que fazem parte do Programa Recicleiros Cidades, como Guaxupé.

Tal medida gera ganhos para ambos os lados. As empresas dão a destinação ambientalmente correta aos recicláveis e, ao mesmo tempo, colaboram para o desenvolvimento da cooperativa e dos seus cooperados. Em contrapartida, recebem apoio na organização dos recicláveis, na conscientização dos colaboradores, além de receber o selo de empresa amiga do meio ambiente.

Mais sobre a Cooxupé

Fundada na década de 1930, a Cooxupé, Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé, conta hoje com mais de 18 mil cooperados, grande parte deles de pequenos produtores que vivem da agricultura familiar. 

A cooperativa recebe café produzido em mais de 300 municípios de sua área de ação, localizada no Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Matas de Minas e Vale do Rio Pardo, no estado de São Paulo. 

Atualmente, a Cooxupé tem 48 unidades de negócios, sendo: a Matriz (em Guaxupé), núcleos, filiais, unidades avançadas, postos de atendimento e o escritório de exportação em Santos, além de armazéns e o Complexo Industrial Japy, empreendimento logístico de última geração.

A voz dos cooperados #1: o impacto social proporcionado pelo Programa Recicleiros Cidades

O Programa Recicleiros Cidades muda a história do município ao estruturar do zero um sistema inteligente de coleta seletiva e reciclagem, contribuindo para a limpeza urbana, além de preservar o meio ambiente e os recursos naturais. 

Ao mesmo tempo, transforma a vida de pessoas em situação de vulnerabilidade – muitos que até então já atuavam como catadores de materiais recicláveis. Com a criação de uma cooperativa de reciclagem na cidade, esses profissionais agora integram uma Unidade de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMR) e passam a ter acesso, todos os meses, a uma renda digna, condições adequadas de trabalho e extensa formação, com capacitação técnica e humana.

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Veja alguns depoimentos de cooperados que atuam nas cooperativas estruturadas e incubadas pelo Instituto Recicleiros.

“A cooperativa me ajudou bastante com a chance de cursar a faculdade de Farmácia na Univértix, de poder ter uma renda para que eu consiga fazer os meus projetos, realizar meus sonhos e avançar. Também, de chegar ao final de semana e ter algum dinheiro no bolso, de correr atrás das coisas que eu planejava. Por isso, agradeço pela oportunidade, pois hoje em dia está tão difícil conseguir alguma forma de ter uma renda e a Cooperativa Recicla Três Rios me ajudou com isso”.

Messias Neves Marques, 26 anos, Recicla Três Rios.

“Estava desempregada. Estou aqui há quase 2 anos. Para mim mudou tudo. Recebo minha remuneração e consigo fazer planos. Hoje tenho minha independência financeira, vou ao mercado e compro o que eu quiser. E consegui pagar o tratamento do meu filho, que está recuperado. Foi a minha maior vitória. Tenho muitos aprendizados socialmente falando. Comunicativa eu já era e fiquei ainda melhor. Quando chego nos lugares para falar da cooperativa, consigo falar bem. Gostei também dos cursos que realizei sobre a cooperativa, de marketing, saúde, educação financeira, nutricionista, psicólogo… Só tenho a agradecer Recicleiros por ter me proporcionado esse trabalho, que veio na hora certa. Estava com alguns problemas, mas vim trabalhar e aqui estou eu. É bom demais!”

Francilene Marinheiro, 41 anos, Recicla Cajazeiras.

“Aprendi muitas funções para a minha vida e carreira profissional. Infelizmente, nos últimos empregos, fiquei apenas três meses. Aqui, já estou há sete meses, é o lugar onde estou trabalhando por mais tempo, atuando como assistente administrativo. Além disso, foi o único local que me aceitou do jeito que sou. Estou pensando em fazer faculdade de Análise de Sistemas ou Programação, visando crescer ainda mais na minha vida. Só tenho a agradecer pela oportunidade de estar trabalhando aqui, pois evolui tanto profissionalmente quanto pessoalmente, sou muito feliz aqui”.

Alex Santana, 30 anos, Recicla Piracaia.

“A experiência na Recicla Campo Largo foi uma parte muito importante da história que eu tô construindo na cidade. Sou da Bahia e as relações que eu desenvolvi na cooperativa foram as primeiras que fiz na cidade nova, com pessoas que me acompanham e torcem pelo meu sucesso. A Cleusa, a Dayane, a Adriana, o Alisson e a Dona Suzely, minha mãe, são pessoas de extrema importância para mim. Pude conhecer também o Rafa, o Erich, o Marciano e a Andréia, de Recicleiros, que acabaram agregando ainda mais e por quem vou sempre ser agradecido. Foi através do Rafa, inclusive, que cheguei à empresa onde trabalho hoje – SIG Group. Ele que enxergou meu talento e a possibilidade, que me levaram ao lugar certo na hora certa. Minha vida não seria a mesma sem ter conhecido a Recicla Campo Largo e eu serei grato eternamente à minha mãe por ter me levado até lá e a todas as pessoas que foram trazidas 'no balaio’”.

Thiago Ramos de Souza, 24 anos, ex-cooperado da Recicla Campo Largo e atualmente estagiário de comunicação na SIG Brasil.

Hoje, mais de 300 cooperados em 14 municípios brasileiros são diretamente beneficiados com o Programa Recicleiros Cidades.

Academia do Catador desenvolve treinamento para governança das cooperativas

A Academia do Catador desenvolveu um treinamento específico voltado a diretores e conselheiros fiscais das cooperativas de reciclagem. O objetivo do “Treinamento em Procedimentos de Governança para as Cooperativas de Reciclagem” é esclarecer o conceito e a importância da governança para a construção do processo de autonomia e independência de uma Unidade de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMR).

Além disso, o novo curso também visa apresentar modelos de instrumentos e procedimentos de governança para contribuir nos processo de decisão das diretorias e na fiscalização das cooperativas. O intuito é colocar a unidade em plena conformidade com o estatuto social e as legislações pertinentes.

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“Esse treinamento surgiu da identificação da dificuldade que as cooperativas enfrentam para realizar a Assembleia Geral Ordinária, conforme determina a lei e o estatuto social. Ao buscar entender a raiz do problema, identificamos que não havia uma estrutura de governança metodologicamente estruturada”, explica Mário Ralise, especialista em cooperativismo do Instituto Recicleiros.

“Ao final do ciclo de treinamentos esperamos que os cooperados estejam aptos a governar suas cooperativas, atendendo aos preceitos da governança cooperativa em conformidade com os princípios e valores do cooperativismo”, acrescenta o especialista.

A qualificação das cooperativas incubadas por Recicleiros, via Academia do Catador, vai ao encontro da necessidade das unidades estarem alinhadas com os melhores processos de governança. Afinal, este é um caminho fundamental para a solidez da cooperativa a longo prazo, aliada às boas práticas ESG do mercado.

Conceitos gerais de governança e princípios cooperativistas

O treinamento está dividido em quatro etapas. O primeiro encontro, que ocorreu em julho, foi dedicado às reuniões de diretoria, no qual se apresentou os conceitos gerais de governança – ética, equidade, transparência, responsabilidade, sustentabilidade e prestação de contas –, além dos princípios cooperativistas, como associação voluntária e aberta, controle democrático dos sócios, autonomia e independência, educação, treinamento e informação, cooperação entre cooperativas e preocupação com a comunidade. 

Na sequência, durante o segundo semestre de 2023, serão realizadas as outras fases do treinamento. O curso vai seguir abordando outros assuntos, como Organização do Quadro Social; Reuniões do Conselho Fiscal e realização da Assembleia Geral Ordinária.

“As legislações pertinentes ao cooperativismo contemplam em grande parte os princípios da governança, alçando este modelo organizacional à vanguarda das boas práticas de administração de negócios. Porém, estão estabelecidos na legislação apenas os objetivos e os princípios. Assim, cabe às cooperativas estabelecer protocolos que promovam tais resultados”, acrescenta Ralise. 

Treinamento piloto em duas cidades

A metodologia do “Treinamento em Procedimentos de Governança para as Cooperativas de Reciclagem” foi desenvolvida internamente pela Academia do Catador. Por se tratar de um projeto inédito, a Academia realizou um piloto em Guaxupé (MG) e São José do Rio Pardo (SP), que foram muito bem sucedidas. A proposta era testar a metodologia, incluindo a adequação da linguagem utilizada e dos modelos propostos à realidade das cooperativas.

A Academia do Catador, que promove ações e treinamentos diversos nas áreas técnicas e humanas para cooperados em todo o Brasil, é uma plataforma online de qualificação gratuita tanto para unidades de reciclagem quanto para profissionais da área. O ambiente virtual de aprendizagem, que conta com apoio do Instituto Heineken, Nestlé e SIG, está em fase de desenvolvimento e a previsão é que esteja à disposição de cooperativas e cooperados – sejam incubadas ou não por Recicleiros – ainda em 2024.

Saiba como a Academia Recicleiros do Catador faz a incubação em uma UPMR

Como funciona o processo de criação, incubação e emancipação das cooperativas nas cidades, a partir da atuação da Academia Recicleiros do Catador na UPMR? Esse foi o tema da 8ª Mentoria Técnica com especialistas Recicleiros junto aos gestores públicos dos municípios que concorrem a uma vaga para o Programa Recicleiros Cidades.

O convidado da Mentoria com o tema “Organização dos Catadores: Incubação” foi Lusimar Guimarães, gestor da Academia Recicleiros do Catador, que tem como premissa trabalhar fomentando o empreendedorismo, a inclusão e a mobilidade social das catadoras e catadores brasileiros.

É bom frisar: a Academia Recicleiros do Catador é uma escola de educação corporativa, com foco no desenvolvimento técnico e humano de catadores de materiais recicláveis reunidos em cooperativas. Sua atuação engloba diretamente a Unidade de Processamento de Materiais Recicláveis (UPMR) do município que integra o maior e mais completo programa estruturante de coleta seletiva e reciclagem do Brasil.

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Academia Recicleiros do Catador investe na inclusão e capacitação de profissionais da coleta seletiva e reciclagem

A incubação dentro da UPMR é um projeto de longo prazo, em torno de 60 meses, que dá suporte para o grupo de cooperados operar, administrar e governar a cooperativa. “A Academia tem por missão preparar as pessoas para esses três pontos essenciais, até porque em dado momento esse empreendimento social vai andar sozinho fazendo parte da política pública local”, explica Lusimar.

Os três pilares da incubação

Infraestrutura, Capacitação e Emancipação. Esses são os três pilares da incubação promovida pela Academia do Catador junto às cooperativas que fazem parte do Programa Recicleiros Cidades.

Dentro de Infraestrutura, estão contemplados seis itens: galpão, equipamentos, comunicação, coleta seletiva, orçamento e administrativo.

Já com relação à capacitação, os pontos tratados são: competências gerais, cooperativismo, operacional, administrativo, liderança e empreendedorismo.

Por fim, sobre a emancipação, a incubação envolve a certificação, a política pública e os ativos da cooperativa.

Programa de Desenvolvimento Socioprofissional Recicleiros

Para estruturar todas as ações, a Academia Recicleiros do Catador criou um programa completo de formação estruturado em 5 módulos, são eles:

  • Cooperativismo
  • Produtivo
  • Administrativo
  • Lideranças
  • Competências básicas e gerais para o trabalho

“A escola está dentro da planta, se aprende fazendo na própria UPMR. Tem desenvolvimento individual e tem também um plano coletivo para desenvolvimento do grupo”, acrescenta Lusimar.

Vale lembrar que a Academia Recicleiros do Gestor Público oferece as gravações das Mentorias Técnicas na íntegra dentro do blog de sua plataforma on-line, para todos agentes públicos brasileiros interessados, para ter acesso, basta se inscrever na página oficial a seguir, clique aqui > 

A 9ª Mentoria Técnica da Academia Recicleiros do Gestor Público terá como tema "Mobilização e Comunicação”.

Academia Recicleiros do Catador investe na inclusão e capacitação de profissionais da coleta seletiva e reciclagem

Parte fundamental do Instituto Recicleiros, o programa, que conta com investimentos de empresas como Grupo HEINEKEN, Nestlé e SIG, visa empoderar catadores brasileiros, de forma individual e coletiva, para que possam empreender de forma sustentável

O Brasil gera 82 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano, dos quais apenas 3% são reciclados, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Hoje, estima-se que estejam em ação cerca de 800 mil catadores, segundo dados do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), que são protagonistas quando o assunto é reciclagem.

Porém, a grande maioria desses profissionais está em situação de vulnerabilidade, com remuneração baixa e atuação em ambientes precários, como ruas e lixões, além de condições muito vulneráveis pela falta de contratos que garantam estabilidade para o planejamento de seus empreendimentos.

Formar pessoas e promover a mobilidade social

É dentro deste contexto que nasceu a Academia Recicleiros do Catador, iniciativa essencial que integra as ações do Instituto Recicleiros. O objetivo da Academia do Catador é formar pessoas e promover a mobilidade social desses profissionais a partir do empreendedorismo.

Para tanto, envolve um processo de qualificação profunda e transversal, considerando todas as dimensões necessárias para que o negócio dos catadores possa ser bem sucedido. As trilhas de capacitação desenvolvem conhecimento operacional, de segurança, administrativo, liderança, cooperativismo, governança, relacionamento interpessoal, entre outros assuntos técnicos e comportamentais.

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“A Academia é a concretização de um sonho de constituir uma escola que não tratasse apenas de questões produtivas e administrativas, mas considerasse a dimensão humana, olhando para a origem e a história de vida dessas pessoas. É preciso saber lidar com questões relacionadas à violência doméstica, problemas com álcool, desgastes emocionais, situações de fome e depressão, que muitas vezes fazem parte da condição social dessas pessoas”, explica Lusimar Guimarães, gestor da Academia do Catador. “A reciclagem, para nós, só é sustentável se for inclusiva e emancipatória”, acrescenta.

Com uma jornada intensiva e de longo prazo, a Academia do Catador busca desenvolver condições ideais para que as pessoas mais vulneráveis, aquelas que dificilmente têm oportunidades formais de trabalho e buscam sua sobrevivência como catadores, possam atuar com profissionalismo e eficiência em suas cooperativas.

A metodologia de capacitação da Academia já vem sendo utilizada e constantemente melhorada nas operações do Programa Recicleiros Cidades. São quase 300 catadores e 50 técnicos facilitadores, em 14 cidades, passando pela capacitação. Com o apoio das empresas Grupo HEINEKEN, Nestlé e SIG, o Instituto Recicleiros está sistematizando o conteúdo que é fruto de 16 anos de atuação no campo para torná-lo disponível de maneira gratuita para catadores de todo o país.

Atuação com impacto social positivo

A iniciativa vem mudando a vida de trabalhadores, como é o caso da Deizideria Saraiva da Silva, 23 anos, cooperada, catadora e diretora administrativa da Recicla Cajazeiras, na Paraíba, desde 2022.

“A Academia nos dá toda a assistência para lidar com as questões burocráticas da empresa e questões legais. Fornece conhecimento técnico que só conseguiríamos se fizéssemos uma faculdade. Além disso, nos ajuda como pessoas dando oportunidade para aqueles que o mercado rejeita”, explica Deizideria.

A catadora conta que sua vida financeira mudou após entrar para a cooperativa e iniciar o processo de capacitação. “Por meio da minha remuneração, consegui estabilizar minha família, viver num padrão de vida melhor, pagar as contas, comprar minha moto, as coisas que meu filho precisa e pagar a minha faculdade, que comecei quando entrei na cooperativa”, encerra.

Erich Burger, Diretor Institucional de Recicleiros e um dos idealizadores da Academia, fala do impacto positivo que a Academia do Catador provoca: “entendemos que a demanda por capacitação de qualidade e aderente à realidade dos catadores vem de todo o Brasil. Com a experiência do Instituto Recicleiros na incubação e profissionalização de catadores, associada à possibilidade de deixar isso acessível e padronizado para quantos catadores tiverem interesse, acreditamos que temos um produto extremamente valioso e gerador de profundo impacto social. É um projeto de longa duração, de melhoria contínua, até que se torne a melhor e mais completa solução para o desenvolvimento profissional dos catadores”.

Empresas têm papel preponderante na Academia do Catador

Para dar escala à Academia do Catador, Recicleiros conta com o apoio de empresas que acreditam e apoiam essa causa. Tornar tanto o método quanto o conteúdo livres e gratuitos para catadores de todo o Brasil foi o que chamou a atenção e incentivou empresas a investirem no programa.

“Por meio da Academia queremos compartilhar o conhecimento e boas práticas gerados no Programa Recicleiros Cidades com outros catadores. Para nós a construção de uma cadeia ética de reciclagem, que garante condições de trabalho seguras e remuneração digna aos catadores, é fundamental. Hoje, temos os times de saúde e segurança e de melhoria contínua da fábrica da SIG trabalhando junto com o time dos Recicleiros para desenvolver os melhores protocolos. Nosso objetivo é que os catadores trabalhem nas unidades de processamento com as mesmas condições que nossos funcionários em nossas plantas”, diz Isabela De Marchi, Gerente de Sustentabilidade América do Sul da SIG.

“A Nestlé apoia mais de oito mil profissionais de reciclagem em todo o Brasil, com ações estruturantes que desenvolvem melhores sistemas de reciclagem, aumentam o engajamento sobre o tema e a renda desses trabalhadores. Estar junto com o Instituto Recicleiros, na criação da Academia, faz parte do compromisso da empresa de ter 100% de suas embalagens recicláveis e/ou reutilizáveis integrada à geração de impacto social positivo. E isso também acontece por meio da ampliação do conhecimento, que contribui para valorização dos catadores como empreendedores sociais”, afirma Cristiani Vieira, Gerente de Sustentabilidade da Nestlé Brasil.

Importante destacar que o programa trabalha com a lógica de “inovação aberta”, conceito que busca a inovação a partir da criação de parcerias externas com outras pessoas e organizações. Dessa maneira, os investidores têm a oportunidade de contribuir para a construção dos módulos educativos, estudos socioeconômicos e projetos especiais dentro do espectro da Academia do Catador.

“Sabemos da importância de catadoras e catadores para o funcionamento da cadeia da indústria de bebidas e da reciclagem e, principalmente, da nossa responsabilidade para com este público. O Instituto HEINEKEN, pilar social do Grupo, existe para atuar frente ao desafio de promover condições mais dignas de trabalho para esses profissionais, e parcerias como essa unem o nosso compromisso e recursos com a expertise de quem está diretamente ligado a esses profissionais, nos permitindo promover o desenvolvimento social e a inclusão produtiva necessários para gerar a transformação dessa realidade”, conta Vânia Guil, Gerente Executiva do Instituto HEINEKEN.

Por fim, Lusimar destaca a importância da participação das empresas para estender as ações da Academia do Catador.

“Com o apoio de mais empresas, vamos amplificar este modelo que estrutura, qualifica e emancipa os atores envolvidos nesse segmento da cadeia produtiva, além de gerar conhecimento que é aberto e compartilhado com outras organizações que promovem os catadores. E, por fim, transformar o que alguns ainda chamam de lixo em recursos, trabalho e dignidade, afinal, essa é a nossa missão”, finaliza o gestor da Academia do Catador, Lusimar Guimarães.

Remuneração justa de catadores como elemento de sustentabilidade da reciclagem

No texto de abertura deste blog, falamos sobre o conceito de reciclagem ética e sustentável, destacando o papel estratégico de cada ente dessa cadeia de valor na construção de  condições que atendam a estes dois conceitos. Isso serve como um bom pano de fundo para o assunto da vez: a remuneração justa e competitiva de catadoras e catadores do nosso país como um elemento vital para a sustentabilidade e o desenvolvimento contínuo dessa cadeia. Se ainda não leu o conteúdo anterior, acesse aqui!

 

Pois bem, o ecossistema da logística reversa de resíduos pós-consumo envolve diferentes entes e personagens: empresas, poder público, cidadãos, catadoras e catadores. Acreditamos que um modelo inclusivo e sustentável depende de um arranjo institucional que considera esses diversos entes estabelecendo deveres e responsabilidades claras e encadeadas para que a prática da economia circular possa acontecer de forma sistêmica e virtuosa.

 

Aqui, não há espaço para olhares direcionados a um ou outro player. Ao contrário, é fundamental a parceria entre todos, com cada um fazendo a sua parte, comprometidos com a qualidade e um objetivo comum: a redução do impacto ambiental dos resíduos associado ao desenvolvimento social da população mais vulnerável.

 

 

Há mais de 15 anos, o Instituto Recicleiros está comprometido com essa causa, e trabalha pela conexão e integração de todos esses atores. Atualmente, o Programa Recicleiros Cidades está operando em 12 municípios em 11 estados, por meio de contratos de cooperação técnica que visam o fortalecimento das bases regulatórias e institucionais da política de coleta seletiva inclusiva e o compromisso Recicleiros e de seus parceiros investidores em prover infraestrutura e capacidade operacional para o recebimento e preparação desses materiais para reciclagem. Tudo isso por meio da capacitação intensiva e transversal de pessoas provenientes de estratos sociais de alta vulnerabilidade.

 

Todo esse esforço vai ao encontro de padrões interessantes de qualidade, não só do material em si, mas do que está por trás disso, que são as condições que originam esse material. Garantias de que existem condições operativas que conversam com padrões de qualidade, com ergonomia, saúde e segurança no ambiente de trabalho e que a remuneração desses trabalhadores atende a padrões de dignidade necessários.

 

Equilíbrio para a roda da economia circular girar e não parar

 

A demanda pelos materiais produzidos nessas operações, nas unidades de processamento, é o mais relevante fator de sustentabilidade dessas operações. A depender dos valores e condições praticadas entre organizações de catadores e compradores de material, tem-se a prosperidade ou a inviabilidade desses empreendimentos. Olhar com essa visão crítica para as condições que esses contratos e ofertas representam, é olhar para a sustentabilidade dessa cadeia.

 

Uma oferta qualificada e condizente com a realidade do país, viabiliza o ganho de escala, produtividade e qualidade, pois permite a retenção dos trabalhadores e a melhoria contínua dos processos, com especialização de mão de obra e de fluxos produtivos.

 

Uma oferta qualificada vai além, permite a vida digna dos trabalhadores que compõem esse elo da cadeia, beneficia famílias, economias locais e propicia a longevidade dos empreendimentos de catadores.

 

Hoje, os valores médios de remuneração dos catadores mostram a fragilidade desses atores da reciclagem e proporcionam uma reflexão sobre qual a capacidade produtiva que de fato está sendo estabelecida no segmento.

 

De acordo com um levantamento realizado pela Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT) e pelo Instituto Pragma, com dados de 641 organizações de catadores, em 2020, foram 326,7 mil toneladas de materiais recicláveis comercializados, com produção média de 895 toneladas por dia. Tais números evidenciam a participação ativa desses integrantes na cadeia.

 

Por outro lado, quando analisamos a contrapartida que recebem, nota-se o quão desigual está hoje essa balança. Segundo o mesmo estudo da ANCAT, publicado em dezembro de 2021, a renda média mensal por catador vinculado a alguma das organizações consultadas é de R$ 1098. Ou seja, menor do que o salário mínimo, hoje fixado em R$ 1212.

 

Quando analisada por região, a região Sul lidera com renda média de R$ 1256 por catador; seguida pelo Sudeste, com R$ 1111 e Centro-Oeste: R$ 1091. As regiões Norte e Nordeste apresentam os menores salários, abaixo dos três dígitos, com R$ 975 e R$ 973, respectivamente.

 

Soma-se a isso a alta do preço dos alimentos. Por exemplo, entre janeiro a setembro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) nos segmentos de alimentação e bebidas acumulam inflação de 9,54%. Para se ter uma ideia do que esse índice representa, trata-se da maior alta para os primeiros nove meses em 28 anos.

 

Valores tão baixos diminuem a atratividade dos postos de trabalho e incentivam o turnover, a rotatividade de pessoas nos postos, impactando diretamente na capacidade de qualificar pessoas e processos.

 

Como podemos viabilizar então esse elemento econômico tão importante para a sustentabilidade da cadeia?

 

Existem questões de estratégia de negócio que tendem a favorecer bastante a melhoria das ofertas pelos materiais recicláveis. Uma delas é a capacidade de encurtamento da cadeia, permitindo que os materiais processados pelos catadores cheguem diretamente aos recicladores, perpassando os intermediários e, com isso, capitalizando as vendas sem a dispersão de dinheiro com esses intermediários.

 

A questão não é super simples, mas tem um caminho. Negociações diretas com recicladores dependem de volumes que justifiquem fechamento de cargas em seu máximo aproveitamento e isso requer volume. Outro grande desafio é vencer a barreira do custo logístico para algumas regiões mais distantes dos pólos recicladores.

 

A solução passa (mas não se restringe) pela capacidade de se criar redes integradas de geração de recicláveis, que garantam padrão de qualidade e origem e possam integrar cargas ao longo dos trajetos logísticos, fazendo com que apesar do custo elevado de algumas regiões, menos expressivas em volume, sejam compensados por custos baixos de regiões com maior volume. 

 

No final da equação, essa composição tende a gerar um custo médio de frete viável. É exatamente o que estamos construindo aqui com o programa Recicleiros Cidades, mas queremos ir além das nossas próprias unidades de projeto. Queremos integrar iniciativas que garantam padrão de qualidade ao longo dos nossos trajetos logísticos e oferecer essas condições superiores de negociação com recicladores a um maior número de cooperativas no Brasil.

 

 

Disse antes que não se restringe a isso porque em alguns casos é necessário um rompimento com alguns conceitos impregnados na mentalidade do setor empresarial, o tal do conceito de viabilidade que muitas vezes é trazido à mesa de negociação junto a uma vontade de indexar preços com base em valores de commodities

 

Estamos falando de outra coisa aqui e não de uma escolha entre um material reciclável e uma resina virgem. Estamos falando do trabalho de recuperar resíduos do meio ambiente, da casa dos consumidores e efetivar a responsabilidade das empresas. Isso tem seu custo e deve ser analisado a partir dessa ótica.

 

Quanto maior for a eficiência das unidades de triagem - e aqui buscamos isso todos os dias -, melhor será a razão custo x benefício dessas operações. Só não podemos esperar que esses catadores e cooperativas tenham de buscar sozinhos meios para sobreviver, aquele famoso “se virem”. E, então, “se virem” para assegurar suas operações sem poder ter um sistema de combate a incêndio e/ou seguro patrimonial. Ou mesmo “se virem” para trabalhar sem parar, já que não podem pagar pela previdência ou ter pelo menos 30 dias de descanso remunerado a cada 12 trabalhados.

 

Sim, eventualmente empresas terão que assumir que o valor que chega aos catadores para uma tonelada de um determinado material não é o suficiente para o mínimo necessário para a sustentabilidade dessas operações, para a dignidade desses postos de trabalho. E aí, será fundamental sentar à mesa com os outros elos da cadeia, recicladores, convertedores e brand owners para construir uma oferta condizente, digna e sustentável.

 

Mas, e se for inviável?

 

Não existe inviabilidade quando consideramos compliance nessa equação. O que deve ser feito, tem que ser feito e de maneira ética, justa e inclusiva. Quando uma empresa diz que não pode pagar pelo custo justo e inerente de um processo que faz parte do ciclo de vida do seu produto e que não pode ser tratado como externalidade, está assumindo que o seu próprio negócio não é viável. Se não existe margem para que um determinado produto arque com seus custos inerentes, a resposta é clara: este produto não pode existir.

 

Sabemos que o retorno sustentável e digno de resíduos para a cadeia produtiva é viável. A questão aqui é sobre o compromisso do setor empresarial no cumprimento de suas obrigações. E, também, no empenho em criar alianças, articular parceiros e atuar com visão de médio e longo prazo na construção dessa cadeia, na busca conjunta pela eficiência de custos por meio do investimento estruturante qualificado, da tecnologia e da revisão de seus próprios projetos de embalagens e processos produtivos.

 

Nosso material vai além. Vai ao encontro do seu compromisso com a sustentabilidade e o impacto social para remuneração justa.

 

Queremos entregar nosso material reciclável aí na sua porta, diretamente da porta do seu consumidor, com rastreabilidade e um rastro de transformação social.

 

Mas, quais as vantagens para as empresas que firmam esse tipo de parceria com Recicleiros?

 

  • Oportunidade de criação de valor compartilhado e de inovação social, fomentando políticas públicas de coleta seletiva e reciclagem e participação direta de cooperativas;

 

  • Previsibilidade, pois garantem o fornecimento e os preços não são regulados por fatores externos como diferenças geopolíticas e oscilação do preço de commodities;

 

  • Fomentam a elevação da oferta de materiais pós-consumo, pois são provenientes de projetos de aumento dos índices de reciclagem (adicionalidade), o que representa mais estabilidade para o mercado a longo prazo, capacidade de cumprimento de acordos e pactos globais e a consequente elevação de benefícios sociais e ambientais. 

 

  • Reduz a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) e a entrada de resíduos sólidos em aterros e lixões;

 

  • Garante a segurança de abastecimento por meio de contratos firmes;

 

  • Reduz riscos para as marcas pelos atributos de garantia de origem ética e socialmente justa.

 

Estamos a todo o vapor construindo essa história. Se ela tem a ver com a filosofia da sua empresa, vamos conversar e somar esforços na construção do futuro da reciclagem sustentável no nosso país.

 

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