A Reciclagem Não Tira Férias: quando os dados guiam ação e mobilização

A campanha “A Reciclagem Não Tira Férias” nasceu de uma leitura atenta dos dados coletados pelo Programa Recicleiros Cidades. Em 2024, uma das metas do programa era ampliar a arrecadação de materiais recicláveis nas escolas municipais, de forma a fortalecer o engajamento de alunos, famílias, educadoras e educadores na coleta seletiva.

Durante a análise dos relatórios, um dado chamou atenção: em Cajazeiras (PB), a captação de materiais havia caído de 3,4 toneladas em abril de 2022 para 1,5 tonelada no mesmo período de 2023. Em contrapartida, observou-se um padrão de replicação entre mobilizadores, quando uma equipe iniciava a ação, outras cidades tendiam a acompanhar, mantendo uma média de cerca de 4 toneladas.

As equipes de campo também relataram que muitas escolas realizavam o descarte de materiais escolares sem possibilidade de reutilização, como livros e cadernos. A partir desse cenário, surgiu a pergunta central que orientou a campanha: como potencializar essa destinação e transformar esse momento em uma ação coletiva?

Assim se estruturou a campanha que envolve escolas, comunidades, cooperativas e gestores públicos em uma mobilização ambiental que ultrapassa o ano letivo.

Material arrecadado na campanha em Três Rios/RJ

Duas frentes de trabalho, um objetivo em comum

A campanha foi organizada em duas frentes principais, com estudantes incentivados a realizar o descarte adequado dos materiais usados ao longo do ano e as escolas responsáveis por encaminhar livros, apostilas e itens que não poderiam ser aproveitados no ano seguinte.

Com sugestões das equipes locais, a mobilização foi ampliada para toda a comunidade, por meio da instalação de Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) temporários em cooperativas, bibliotecas, secretarias e demais locais de grande circulação.

Ponto de entrega voluntária (PEV) em Serra Talhada/PE

A comunicação priorizou clareza e praticidade, conectando as redes sociais de prefeituras e cooperativas, grupos de responsáveis e bilhetes enviados pelas escolas. As ações resultaram em forte engajamento comunitário, os  moradores passaram a organizar caixas para coleta seletiva, famílias levam materiais aos PEVs e os cooperados são preparados para receber esse aumento no fluxo de resíduos recicláveis.

“A campanha ‘A reciclagem não tira férias’ é de suma importância para cooperativa, porque temos a chance de aumentar a massa devido ao descarte de cadernos e livros usados no ano letivo. No primeiro ano, entrou muito material de algumas escolas que estavam acumulando, demos muita sorte”, diz Daniela Paulino, Presidente da Cooperativa Recicla Guaxupé.

Parte do material arrecadado na campanha em Guaxupé/MG

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Impacto medido em toneladas e em participação

A campanha contou com a adesão de 9 das 12 cidades participantes do Programa Recicleiros Cidades e alcançou 136 toneladas de materiais arrecadados. O destaque ficou para Cajazeiras, que registrou 27,1 toneladas, quase 18 vezes mais que no ano anterior, contudo as outras cidades também revelaram mudanças na rotina da UPMR. 

Esse aumento expressivo de materiais foi comemorado por toda a equipe de triagem e mobilização, destacando a importância e impacto positivo direto que o trabalho cotidiano de uma cooperativa tem na comunidade.

“No primeiro ano, a dúvida sobre a adesão das escolas, pais e alunos deu lugar a uma grande surpresa: o sucesso! O trabalho de mobilização dos cooperados e a colaboração na divulgação de parceiros, o envolvimento de toda a comunidade escolar… a campanha arrecadou uma grande quantidade de livros, apostilas e papéis, muitos guardados há anos. Foi sucesso e fez uma enorme diferença para o trabalho da cooperativa e para o meio ambiente”, comenta Gisele Biléia, Líder Local de Guaxupé.

Um ciclo que se renova

As escolas participantes receberam certificados e a ação ganhou visibilidade nas mídias locais. No ano seguinte, a campanha foi replicada em novas cidades, consolidando-se como prática recorrente dentro do Programa Recicleiros Cidades.

Entrega de certificado pela Recicla Guaxupé à Escola Municipal Coronel Antônio Costa Monteiro.

O avanço da iniciativa demonstra como ações orientadas por dados podem gerar resultados sustentáveis, articulando educação ambiental, gestão de resíduos e participação comunitária. À medida que novos anos letivos se encerram, novas oportunidades de fortalecer essa mobilização continuam surgindo.

Mobilização orientada por dados: transformando informação em impacto

Quando falamos em Mobilização, aposto que você pensa logo nas ações feitas nas escolas com as crianças, nas ruas, nas campanhas… e é isso mesmo! Esse é o lado visível, que toca as pessoas. Mas, o que nem todo mundo sabe é que, por trás de tudo isso, existe uma estrutura enorme de dados, planilhas e análises que ajudam o setor a funcionar do jeito certo.

No contexto do Programa Recicleiros Cidades, a Mobilização passou por uma transformação silenciosa, mas profunda. O que antes era apenas o registro manual das tarefas realizadas e a percepção empírica se transformou em um modelo organizado e orientado por dados, onde cada ação é mapeada, analisada e transformada em conhecimento.

Do registro à inteligência

O processo foi gradual. Começamos com planilhas simples com registros que mostravam onde estivemos, quando, com quem e com qual objetivo. Mas, conforme o trabalho crescia, ficou claro que precisávamos enxergar além.

Foi assim que nasceram os dashboards de Mobilização: painéis dinâmicos que reúnem dados de campo, relatórios de eventos, resultados de campanhas e indicadores de impacto, que representaram uma verdadeira virada de chave. Hoje, conseguimos não apenas saber o que foi feito, mas como e por que cada ação gerou determinado resultado.

Dados que contam histórias

Esses números não são frios, eles contam histórias. Mostram o engajamento crescente da comunidade, as campanhas que mais despertam interesse, os territórios que demandam atenção e os resultados das ações de educação ambiental.

Cada ponto no gráfico representa uma ação, com pessoas reais, que se envolveram, participaram e transformaram seu entorno. E é justamente isso que torna a Mobilização do Instituto Recicleiros única: a combinação entre encantamento humano e precisão analítica.

Eficiência com propósito

Com essa estrutura, o planejamento ficou mais estratégico. As equipes conseguem cruzar dados de participação, adesão e engajamento, além de identificar tendências e gargalos.

Os dashboards permitem atuar com agilidade, reforçando o princípio da melhoria contínua, um dos pilares da Mobilização. Agora, cada reunião, campanha e nova ideia nascem sustentadas em evidências. Isso garante que o trabalho em campo seja inspirador, eficiente e mensurável.

É aí que a Mobilização se torna ainda melhor. Quando você consegue enxergar os resultados de forma clara, tudo ganha outro ritmo. As reuniões ficam mais objetivas, as campanhas são pensadas com base no que deu certo (e no que não deu), e o tempo em campo é usado com mais estratégia.

A verdade é que os dashboards viraram uma espécie de bússola. Não substituem o olhar humano, mas dão base a ele. Afinal, mobilizar continua sendo sobre pessoas, conversa e vínculo. A diferença é que agora temos informação estruturada para apoiar cada decisão.

Um futuro orientado por dados e pessoas

A Mobilização segue sendo o ponto de partida das transformações nas cidades. Mas, hoje, é também um espaço de análise, planejamento e aprendizado.

Cada dado registrado é uma semente plantada e cada insight gerado é um passo em direção a comunidades mais engajadas e cooperativas mais fortalecidas.

Porque mobilizar é, sim, sobre pessoas, mas também sobre entender o que os dados nos contam sobre elas para seguir transformando realidades com mais clareza, eficiência e impacto.

A Mobilização segue em crescimento, se reinventando e aprendendo com o que os dados mostram e com o que as pessoas ensinam. Porque é assim que o encantamento e a análise se encontram: um orienta o outro.