O Anuário da Reciclagem, desenvolvido a partir da iniciativa do Instituto Pragma, é um material de referência no setor. Foi criado para evidenciar o potencial econômico, social e ambiental da reciclagem e, também, mostrar a importância de catadoras e catadores de recicláveis na promoção e viabilização da cadeia sustentável.
Temos orgulho de ter contribuído com dados estatísticos que compõem esse conteúdo tão rico e que nos ajuda a refletir e pensar nos próximos passos para criarmos um modelo sustentável que una os aspectos ambientais e sociais.
Destacamos aqui 8 pontos relevantes do Anuário, cuja última edição foi lançada em dezembro de 2022. Confira!
1. O perfil demográfico das catadoras e catadores no Brasil
De acordo com o Anuário da Reciclagem 2022, em média, são 32 catadoras e catadores de materiais recicláveis por cooperativa/associação, considerando uma amostragem de 306 organizações pesquisadas em todo o país, e um total de 9.854 profissionais.
Olhando para as regiões, o Centro-Oeste conta com a maior média de profissionais por organização (50). Depois, aparecem Sudeste e Nordeste (31), Sul (29) e Norte (22).
Outro ponto interessante é a análise em números absolutos por região. A Sudeste apresenta o maior número de catadoras e catadores, com 3.977, cerca de 40% dos trabalhadores, seguida da Sul, com 1.964. Já o Norte tem o menor número entre as regiões do país (568), aproximadamente 6%.
Considerando os estados, São Paulo tem o maior número de trabalhadores: 2.854. Na sequência, vem o Distrito Federal (1.052). Na outra ponta, os estados da Paraíba e do Acre registraram o menor número de catadoras e catadores, com 23 e 22, respectivamente.
Importante ressaltar que esse cenário de distribuição das catadoras e catadores pode estar relacionada a alguns fatores, como a presença de políticas públicas voltadas à coleta seletiva operacionalizada por organizações de catadores de materiais recicláveis, bem como incentivos públicos, além da presença de indústrias da reciclagem.
Recicleiros está presente hoje em todas as regiões do país. E o plano é, até 2027, marcar presença em 60 cidades, e alcançar mais de 3 mil postos de trabalho nas cooperativas.
2. A proporção de homens e mulheres dentro da reciclagem
As mulheres representam 56% do total de trabalhadores vinculados à reciclagem, versus 44% dos homens. A análise considera 306 organizações, num total de 9.854 catadores.
Em números absolutos, são 5.483 mulheres, enquanto 4.371 são homens, ou seja, uma diferença de 1.112 mulheres a mais nas atividades de coleta, triagem, enfardamento e comercialização de materiais recicláveis dentro do universo pesquisado.
Quando analisada a distribuição de mulheres e homens por região, a Sudeste é a que conta com a maior presença feminina: 60% ou 2.381 profissionais. Depois, aparecem as regiões Sul com 1.077 mulheres (55%); Centro-Oeste com 919 (53%), Norte com 291 (51%) e Nordeste com 815 (50,3%).
As mulheres, além de essenciais na cadeia da reciclagem, são protagonistas em diversos movimentos da categoria pelo país.
3. Renda média de catadoras e catadores
A renda média mensal foi um dos pontos levantados no Anuário. De acordo com ele, a média nacional da renda desses profissionais da reciclagem é de R$ 1.478, ou seja, ligeiramente acima do salário mínimo atual, fixado em R$ 1.320.
Quando olhamos a renda média por região, Centro-Oeste, Sul e Sudeste registraram R$ 1.671, R$ 1.594 e R$ 1.574, respectivamente, acima da média nacional. As regiões Nordeste e Norte ficaram abaixo da média nacional e, também, inferior ao salário mínimo. A primeira registrou R$ 1.008, enquanto a segunda R$ 1.022.
O estudo também revela um crescimento expressivo da renda média mensal das catadoras e catadores entre os anos de 2019 e 2021. O valor, que era de R$ 1.072, passou para R$ 1.448 dois anos depois, uma elevação considerável de 35,1%.
Destaque para as regiões Centro-Oeste e Sudeste, que cresceram acima da média nacional. Na Centro-Oeste, subiu de R$ 800 para R$ 1.671, aumento de 108,9%. Já a Sudeste passou de R$ 1.073 para 1.574, acréscimo de 46,7%. Vale mencionar que as outras regiões também cresceram, mas com índices um pouco menores.
Apesar das conquistas nos últimos anos em relação à remuneração, é bom ressaltar que ainda existem muitos avanços pela frente. Afinal, os valores ainda não são satisfatórios e, também, a informalidade é uma realidade nesse contexto. É comum se ver ambientes de trabalho precários, nos quais muitos trabalhadores seguem sem benefícios trabalhistas e direito à seguridade social, por exemplo. E isso precisa mudar.
Recicleiros defende uma remuneração justa a catadoras e catadores como elemento importante dentro da cadeia da reciclagem. Veja este texto publicado aqui no blog.
4. Preço médio dos materiais comercializados para reciclagem
O alumínio é disparado o item reciclável mais rentável na hora da venda, de acordo com o Anuário da Reciclagem 2022. O valor médio cobrado pelo item no Brasil é de R$ 4,77 o quilo. Quando feito o recorte por região, na Sudeste o alumínio é negociado por até R$ 5,94, enquanto no Nordeste, o valor fica em R$ 2,82.
Em seguida, aparece o plástico, negociado a R$ 1,73 o quilo na média nacional. Aqui, é bom lembrar, existem hoje diversos tipos de plásticos, como PEAD, PEBD, PP, PET e PS. Alguns bem mais valorizados pelo mercado do que outros, o que acaba desvalorizando a comercialização dos que possuem menor demanda.
O terceiro item é “outros metais” (sucatas), vendido, em média, a R$ 1,58. Já o papel é comercializado a R$ 0,81, em média. Por último na lista vem o vidro, cujo preço de negociação fica em apenas R$ 0,21. Sobre esse valor tão baixo envolvendo o vidro, vale uma ponderação.
Apesar de a reciclagem do vidro ser um dos processos de reciclagem menos complexos, o material ainda enfrenta o desafio da logística, por conta de seu peso e fragilidade. Atento a isso, Recicleiros tem desenvolvido projetos em conjunto com o setor empresarial para a real evolução da cadeia de reciclagem de vidro. O objetivo é garantir que este material aumente o percentual de reciclabilidade, ao mesmo tempo que garanta uma remuneração justa às cooperativas e, por consequência, aos cooperados.
Quando analisamos a representatividade por material coletado dentro das cooperativas, o papel é o item que tem maior participação, com 46% do total recolhido. Na sequência, vem o plástico, com 22%.
Os metais representam 16% de toda a quantidade de recicláveis coletada pelas cooperativas brasileiras, sendo apenas 2% de alumínio, o item mais rentável. Importante destacar que este baixíssimo percentual de alumínio que chega às cooperativas acontece, em geral, pela coleta de catadores avulsos nas ruas e estabelecimentos em geral, situação esta onde comumente o catador ou a catadora estão em situação de alta vulnerabilidade social. Os vidros, por sua vez, correspondem a 16%.
Os dados foram obtidos a partir das informações disponibilizadas por 646 organizações de catadores, que correspondem a uma amostragem de 32% do Banco de Dados do Anuário.
Embora as iniciativas para transformar este cenário sejam muitas, o caminho ainda é longo. Recicleiros acredita que uma cadeia sustentável de reciclagem passa necessariamente pelo pagamento de um preço justo dos materiais recicláveis.
Só assim será possível promover impacto profundo do ponto de vista ambiental e social, e que seja perene para benefício de toda a sociedade.
5. Coleta Seletiva nos municípios
As 1.996 organizações que compõem o Banco de Dados do Anuário da Reciclagem 2022 estão sediadas em 1.032 municípios espalhados por todo o país.
A partir daí, foram consultados os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) sobre a gestão de resíduos sólidos no Brasil. O resultado? Constatou-se que 692 municípios possuem coleta seletiva, o que corresponde a 67% do total de municípios mapeados pela pesquisa. A margem de erro é de 5%. Vale ressaltar que os 1.032 municípios correspondem a 18,5% do total de municípios no Brasil.
Ao fazer o recorte por regiões, a Sudeste é a que concentra o maior número de municípios com coleta seletiva em operação: 48,5%. A Sul aparece em segundo lugar com 29,6%, seguida pela região Nordeste com 11,1%.
Em quarto lugar, vem a Centro-Oeste com 7,3% e, fechando a lista, a Norte, com 3,3%.
Dentro do universo pesquisado, o Estado de São Paulo figura com o maior número de cidades com coleta seletiva: 185. O Paraná vem em segundo com 125, e Minas Gerais fecha o top-3 com 100 municípios.
É importante destacar que em diversos municípios brasileiros a coleta seletiva ainda é incipiente e/ou ineficiente, sendo ao mesmo tempo que um grande obstáculo, tanto para a gestão de resíduos sólidos quanto para as cooperativas que têm seu trabalho e renda atrelado ao serviço, também uma grande oportunidade para que estes sistemas sejam otimizados.
6. Impactos ambientais da atuação das organizações de catadores
Para além de uma atividade econômica importantíssima, a reciclagem tem um papel essencial na preservação do planeta. Por exemplo, a partir da reciclagem, podemos reduzir as emissões de gases do efeito estufa na atmosfera.
Sem dúvida nenhuma, essa é uma das grandes motivações para implantar ou mesmo ampliar a coleta seletiva de resíduos, como fazemos, em parceria com as prefeituras, por meio do Programa Recicleiros Cidades.
Essa diminuição de emissões de CO2 a partir da reciclagem acontece de forma direta e indireta. O efeito direto se aplica na redução da geração de gases naturalmente emitidos durante o processo de decomposição dos materiais nos locais de descarte. Já o efeito indireto diz respeito à redução da produção de materiais virgens.
De acordo com o Anuário da Reciclagem 2022, foram coletadas pelas organizações de catadores que compõem o banco de dados da pesquisa, 421,7 mil toneladas de materiais. Esse volume está associado com o potencial de redução de emissões de 282,4 mil toneladas de CO2, considerando a redução da produção de materiais virgens, além da diminuição do descarte de resíduos em aterros e lixões, e, por consequência, do gás metano emitido durante o processo de decomposição.
O material que mais contribui para a potencial redução de emissões, conforme dados do Anuário, é o metal, que soma 51%, em razão do alto nível energético envolvido na produção da matéria-prima virgem. Na sequência vem o plástico, que responde por aproximadamente 40% de todas as emissões evitadas.
Esse cenário deixa evidente a lógica da cadeia da sustentabilidade defendida por Recicleiros, que envolve impacto ambiental e social. Afinal, a atividade das catadoras e catadores, que são ponto-chave nesse sistema, tem um papel essencial na redução da emissão de gases do efeito estufa, aliada à preservação dos recursos naturais.
7. Economia de matéria-prima virgem
Entre os muitos benefícios da coleta seletiva e reciclagem, hoje vamos olhar para o impacto positivo do ponto de vista da economia da matéria prima virgem. Já imaginou quanto podemos poupar de matéria-prima ao reutilizar materiais?
Por exemplo, estudos indicam¹ que a reciclagem de uma tonelada de papel economiza, em média, o equivalente a 20 árvores, 3,51 mil kWh de energia, e 29.202 litros de água. Já uma tonelada de plástico reciclado economiza cerca de 0,5 toneladas de petróleo e 5,3 mil kWh de energia, enquanto uma tonelada de vidro economiza, em média, 1,2 toneladas de areia e 800 kW/h de energia elétrica.
A partir daí, o Anuário da Reciclagem 2022 calculou o potencial de preservação considerando as informações reportadas pelas organizações que constam neste Banco de Dados, que serve de base para o Anuário.
Vale ressaltar que os cálculos dizem respeito apenas à economia da matéria-prima que deixa de ser empregada na produção de um novo material, sem considerar os insumos aplicados na reciclagem dos materiais usados.
Portanto, levando-se em conta o volume de resíduos coletados para a reciclagem mapeadas no Banco de Dados do Anuário da Reciclagem 2022, a economia potencial de matéria-prima seria de:
- 1.378,1 milhões de kWh de energia
- 3,9 milhões de árvores
- 5.706 milhões de litros de água
- 46,6 mil toneladas de petróleo
- 42,8 mil toneladas de bauxita,
- 57,7 mil toneladas de ferro-gusa
- 80,2 mil toneladas de areia
Os números são impressionantes!
Por aqui, temos orgulho de ser parte disso. Por meio do Programa Recicleiros Cidades, contribuímos de forma direta para dar vida à coleta seletiva e à reciclagem e, claro, para a economia de matéria prima gerada a partir do reaproveitamento de resíduos sólidos.
1.Hisatugo, Erika e Marçal Júnior, Oswaldo. Coleta seletiva e reciclagem como instrumentos para conservação ambiental: um estudo de caso em Uberlândia, Sociedade & Natureza, v. 19, n. 2, pp. 205-216. 2007.
8. Evolução da quantidade de resíduos sólidos destinados à reciclagem
Dentre tantas informações relevantes do segmento, a quarta edição do Anuário da Reciclagem mostra a evolução de alguns indicadores, como a quantidade de resíduos sólidos destinados à reciclagem.
Neste caso, foi feita uma análise evolutiva da quantidade expandida, ou seja, quando a média obtida pelas organizações pesquisadas pelo Anuário é estendida às demais organizações da macrorregião.
Dito isso, o crescimento de resíduos sólidos destinados à reciclagem em todo o Brasil foi de 23%, saltando de 1057,5 mil toneladas em 2019 para 1304,5 mil toneladas em 2021.
Na análise por região, a Nordeste foi a que mais cresceu neste mesmo intervalo: 63%. Depois, aparecem Norte, com 36%, Sudeste (29%), Centro-Oeste (15%) e Sul (4%).
O dado, por um lado, é positivo porque sinaliza uma evolução da coleta seletiva e reciclagem nos últimos anos. Mas, sabemos que, mesmo se tratando de um crescimento na casa de dois dígitos, ainda há muito espaço para a reciclagem evoluir e se fortalecer no nosso país.
É por isso que trabalhamos em diversas frentes, sempre em parceria com o poder público, iniciativa privada e sociedade civil para promover mudanças significativas do ponto de vista ambiental dentro da coleta seletiva e reciclagem.
Sensacional o artigo. Nos dá a ideia da importância cada vez maior da reciclagem e dos seus benefícios para o ser humano e para o meio ambiente.